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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Sobre a Técnica


Ouvimos diariamente que a ciência tem as explicações corretas para o mundo e tudo aquilo que vemos.  Sendo críticos no sentido estrito, devemos nos perguntar incessantemente: seria esta uma verdade? Conteria a ciência as explicações para todos os fenômenos conhecidos pelo homem? Para respondermos a estas perguntas, precisamos, antes de mais nada, definir o que é a ciência e separá-la das ciências que outrora o homem desenvolveu.
A ciência moderna, que tem um modelo mecanicista e reducionista do mundo, começou justamente com Descartes e seu subjetivismo: “cogito ergo sum”. Acontece que a lógica já era um ramo do conhecimento completamente estabelecido, e esta lógica afirmava (e provava) a entidade e Deus. A única maneira de não afirmar a deidade era criar uma lógica inteiramente nova e diversa daquele ramo de conhecimento tão bem estabelecido naqueles tempos: a lógica cartesiana, em contraposição à lógica aristotélica. Na ciência tradicional, nos lembra Aristóteles, a matemática é útil enquanto parte de um sistema lógico, mas ela jamais deve ser utilizada como forma última de comprovar os fenômenos devido ao fato de ela apenas poder lidar com quantidades, e não com as qualidades, que, para os antigos cientistas, eram tão ou mais importantes que as medidas dos seres. É Descartes quem inaugura esta linha de pensamento cientificista onde a prova matemática é definitiva e a prova lógica é posta em segundo plano. Nós podemos, inclusive, afirmar que Descartes buscou inspiração em Demócrito e Leucipo, duas nulidades de seu tempo e várias vezes desmascarados como farsantes por diversos filósofos, não pela teoria atomista, mas pela teoria materialista.
Finalmente, vamos ao cerne do assunto: a ciência se baseia no método empírico, onde, através da reprodução de determinados fenômenos, eles poderiam inferir se suas teorias estão corretas ou não. Aristóteles, no entanto, nos lembra que a técnica nada tem a ver com a teoria, isto é, a teoria pode estar completamente errada, mas a técnica sempre reproduzirá os mesmos efeitos. Parece absurdo? Vamos tomar como exemplo a civilização chinesa. Os chineses sempre foram ótimos matemáticos, mas acreditavam na existência de duas energias: Yin (feminino, seria o estado inerte da matéria e da energia) e Yang (masculino, seria o estado onde matéria e energia se movem). Eles sempre demonstraram a existência destas duas energias através da pólvora e da bússola. No entanto, sabemos que não há nem energia Yin, nem Yang. Ainda não estão satisfeitos, caros leitores? Pois bem...
Imaginemos, agora, que os chineses tivessem descoberto a eletricidade, tal como Franklin, com um pequeno objeto metálico preso a uma pipa. Ora, eles não chamariam esta energia de eletricidade, e nem ao menos a considerariam uma energia separada, uma vez que os relâmpagos são Yang, e a força adveio deles. Agora, suponhamos que um deles, por acidente, tenha descoberto que, passando uma corrente de Yang entre dois pedaços próximos de carvão, era possível criar uma luz mais fácil de controlar que a luz do fogo. Evidentemente, haveria pesquisas no sentido de criar melhores lâmpadas e seria uma questão de tempo até o filamento de papelão. Uma vez descoberta a lâmpada, seria simples imaginar transistores e computadores e pronto! A informática existiria sem explicações cientificistas! Assim poderia ser com tudo: a descoberta do petróleo e suas aplicações, galvanização, viagens espaciais... basta usar a imaginação que a ciência moderna completa caberia dentro desta explicação.
O que nós queremos dizer com isto? Simples: a tecnologia se desenvolve através do estudo dos dispositivos que já foram inventados, e não com base nas explicações metafísicas da realidade. Desta forma, o empirismo como filosofia pode ser comprovadamente falso e falacioso. Ou seja: o desenvolvimento técnico não necessariamente acompanha uma explicação adequada. A pergunta que nos move é: seria a ciência a explicação adequada?