Ouvimos
diariamente que a ciência tem as explicações corretas para o mundo e tudo
aquilo que vemos. Sendo críticos no
sentido estrito, devemos nos perguntar incessantemente: seria esta uma verdade?
Conteria a ciência as explicações para todos os fenômenos conhecidos pelo
homem? Para respondermos a estas perguntas, precisamos, antes de mais nada,
definir o que é a ciência e separá-la das ciências que outrora o homem
desenvolveu.
A ciência
moderna, que tem um modelo mecanicista e reducionista do mundo, começou
justamente com Descartes e seu subjetivismo: “cogito ergo sum”. Acontece que a lógica já era um ramo do
conhecimento completamente estabelecido, e esta lógica afirmava (e provava) a
entidade e Deus. A única maneira de não afirmar a deidade era criar uma lógica
inteiramente nova e diversa daquele ramo de conhecimento tão bem estabelecido
naqueles tempos: a lógica cartesiana,
em contraposição à lógica aristotélica.
Na ciência tradicional, nos lembra Aristóteles, a matemática é útil enquanto
parte de um sistema lógico, mas ela jamais deve ser utilizada como forma última
de comprovar os fenômenos devido ao fato de ela apenas poder lidar com
quantidades, e não com as qualidades, que, para os antigos cientistas, eram tão
ou mais importantes que as medidas dos seres. É Descartes quem inaugura esta
linha de pensamento cientificista onde a prova matemática é definitiva e a
prova lógica é posta em segundo plano. Nós podemos, inclusive, afirmar que
Descartes buscou inspiração em Demócrito e Leucipo, duas nulidades de seu tempo
e várias vezes desmascarados como farsantes por diversos filósofos, não pela
teoria atomista, mas pela teoria materialista.
Finalmente,
vamos ao cerne do assunto: a ciência se baseia no método empírico, onde,
através da reprodução de determinados fenômenos, eles poderiam inferir se suas
teorias estão corretas ou não. Aristóteles, no entanto, nos lembra que a
técnica nada tem a ver com a teoria, isto é, a teoria pode estar completamente
errada, mas a técnica sempre reproduzirá os mesmos efeitos.
Parece absurdo? Vamos tomar como exemplo a civilização chinesa. Os chineses
sempre foram ótimos matemáticos, mas acreditavam na existência de duas
energias: Yin (feminino, seria o estado inerte da matéria e da energia) e Yang
(masculino, seria o estado onde matéria e energia se movem). Eles sempre
demonstraram a existência destas duas energias através da pólvora e da bússola.
No entanto, sabemos que não há nem energia Yin, nem Yang. Ainda não estão
satisfeitos, caros leitores? Pois bem...
Imaginemos,
agora, que os chineses tivessem descoberto a eletricidade, tal como Franklin,
com um pequeno objeto metálico preso a uma pipa. Ora, eles não chamariam esta
energia de eletricidade, e nem ao menos a considerariam uma energia separada,
uma vez que os relâmpagos são Yang, e a força adveio deles. Agora, suponhamos
que um deles, por acidente, tenha descoberto que, passando uma corrente
de Yang entre dois pedaços próximos de carvão, era possível criar uma luz mais
fácil de controlar que a luz do fogo. Evidentemente, haveria pesquisas no
sentido de criar melhores lâmpadas e seria uma questão de tempo até o filamento
de papelão. Uma vez descoberta a lâmpada, seria simples imaginar transistores e
computadores e pronto! A informática existiria sem explicações cientificistas!
Assim poderia ser com tudo: a descoberta do petróleo e suas aplicações,
galvanização, viagens espaciais... basta usar a imaginação que a ciência
moderna completa caberia dentro desta explicação.
O que nós queremos dizer com
isto? Simples: a tecnologia se desenvolve através do estudo dos dispositivos
que já foram inventados, e não com base nas explicações metafísicas da
realidade. Desta forma, o empirismo como filosofia pode ser comprovadamente
falso e falacioso. Ou seja: o desenvolvimento técnico não necessariamente
acompanha uma explicação adequada. A pergunta que nos move é: seria a ciência a
explicação adequada?