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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sobre a Doutrina Cartesiana


       
             
                Eis um pequeno esboço que fiz, certa vez, sobre o cartesianismo, e que planejava publicar com o nome de “A Defesa”. Embora esteja incompleto, talvez valha a pena ler e tirar suas próprias conclusões.
                "É evidente que, hoje em dia, estabeleceu-se um novo clero. Em cada rua, cada esquina, podemos ver homens e mulheres dispostos a se proclamarem sacerdotes, de uma forma ou de outra. Seja através das inúmeras vertentes gnósticas do Cristianismo, conhecidas hoje em dia como protestantismo, seja através do pretenso neo-paganismo, que embora remonte aos anos 50, se diz continuador direto de tradições ancestrais, seja através da também pretensa ciência, esta quimera tão efêmera que tem as respostas para todas as perguntas erradas. Com tantas vertentes de fé que nos golpeiam atualmente, a pergunta intrínseca fica ainda mais pungente: onde estará a verdade?
                A pergunta tornou-se ainda mais pertinente que nunca, tendo vista a enorme quantidade de verdades que se contradizem. É evidente que quando duas verdades se contradizem, ou uma estará certa, ou a outra. Portanto, seria possível inferir que apenas uma estará certa, visto que todas se contradizem. Mas qual?
                Desculpe-me, amigo leitor, por parecer supersticioso, mas o inferno existe, e toda a doutrina católica está correta. Sei que parece absurdo, não vos ensinaram isso nas suas escolas, mas a ciência não é ateísta. Ela é teísta sim. Vejamos quem são os seus deuses.
                Comecemos, no entanto, definindo conceitos básicos. Ora, nada é mais sabido que, neste século, é dito: é impossível demonstrar a existência de Deus. Dizem também: “a verdade não existe”. Vejamos: Se a verdade não existe, ou o afirmador está correto, e a verdade não existe mesmo, o que constitui uma verdade, portanto a verdade existe e o afirmador está enganado, ou a verdade existe e o afirmador está enganado. Em ambas as alternativas, aqueles que vivem a repetir idioticamente doutrinas irracionais são, desculpem-me a franqueza, imbecis iletrados que não entendem a própria loucura das palavras que saem de suas bocas.
                Renée Descartes, o pai do cartesianismo (nome dado para a lógica moderna, usada largamente em ciência, em honra a ele), nos disse: “cogito ergo sum”, isto é, penso, logo existo. Daí, podemos tirar três conclusões: ou ele quer dizer que tudo, para existir, tem de pensar, portanto, a terra, os minerais, as bactérias, os protozoários, as algas, os fungos, as plantas e os animas não existem, posto que eles não pensam. No entanto, eles existem, portanto a intenção dele certamente não foi essa.
                Outra possibilidade consiste em dizer que todos os seres, minerais, vegetais, monera, funghi, animais e humanos tem almas e pensam.  Isto provém de uma demasiada relativização do pensamento humano, começado em movimentos gnósticos, e depois largamente aceita, em especial, no meio científico acadêmico. Essa afirmação nada mais é que uma delas. Assim, eles nos comparam aos “irmãos” animais, e nos dizem que tudo o quanto é moralmente aceito para eles, deve se-lo para nós. O que também é evidentemente falso, posto que os animais não obstante são praticantes de pedofilia, incesto e até, algumas vezes, necrofilia. Isso também deve ser moralmente aceito, já que somos animais exatamente como os bonobos? Naturalmente que não. No entanto, estas não são as principais implicações filosóficas do método cartesiano.
                As duas afirmações anteriores estão, segundo o método cartesiano, corretas, mas ainda incompletas. Elas se completam e se explicam totalmente na terceira e última afirmativa: nunca será possível ninguém apreender a realidade objetiva através do pensamento.
                Digamos, por exemplo que eu penso, logo existo. Portanto, nada do que eu percebo é objetivo, e sim fruto de uma subjetividade minha. Logo, eu nunca irei conhecer a realidade. Como eu jamais irei conhecê-la, e nem mesmo sei o que é ou se é real, eu posso dizer que ela não é definível. No entanto, eu interajo com o mundo, que, evidentemente, existe e é definido. A pergunta é: de onde veio este mundo?
                Naturalmente, a única alternativa é a resposta: da minha subjetividade. Logo, tudo o que é extrínseco a mim não existe. Portanto, o mundo é o que eu quero que ele seja, e o que eu penso que ele seja e o que eu crio nele. Portanto, eu sou Deus. Sim, aquele mesmo, que criou todas as coisas. Mas será que o sou? Qual a base para isso? De quem será essa idéia?
                “No dia em que comeres desta árvore, positivamente sereis iguais a Deus”.
                Digamos, por exemplo, que o leitor está a olhar para uma caneta. Ora, a caneta é real, e ela tem um correspondeste em sua mente que faz com que você entenda o objeto caneta. Mas qual é o fator determinante para esta relação entre o real e o mental? Evidentemente, é o objeto extrínseco, posto que é minha mente que apreende o real, e não meus pensamentos que se projetam no mundo.
                Pode perceber, caro leitor, a inversão necessária para a justificação destas idéias? Coloca-se o real como falso, o objetivo como subjetivo, o mundo como imaginário e o imaginário como o mundo! Não é nem mesmo necessário demonstrar que, por mais que um leproso se imagine curado de sua doença, ele não se curará sem intervenção, seja ela médica ou divina. Eles querem fazer você acreditar que o que você pensa se torna realidade! Quem pensa e cria a realidade é Deus!
                Saibamos, portanto, diferenciar o real do imaginário, e tenhamos muito cuidado com filosofias vãs que tem por fito apenas nos enganar".


                                                                              H.P. Cunha

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