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sexta-feira, 29 de junho de 2012

O Discurso Falacioso do Ateísmo Militante


         Ao ouvir o discurso dos neoateus, fica clara sua intenção racional e legítima de querer explicar um mundo sem Deus. Afinal de contas, estamos em uma democracia com liberdade para cada um crer no que quiser. Estes neoateus sempre começam seus artigos dizendo que são tolerantes, amigos dos cristãos, que não tem contra nós e nosso Deus nenhuma inimizade, e que apenas discordam de nossa visão de mundo. Que, justamente por se importarem conosco, falam e repetem que não há Deus. Afinal, se eles tivessem razão (e eles acham que tem), estariam apenas tentando abrir os nossos olhos para não sermos enganados por espertalhões e que, se realmente cremos no nosso Deus e nos importamos com “eles, ateus”, faríamos o mesmo.
         De fato, a coisa que o neoateísmo militante mais faz é dizer que não busca prosélitos, ao contrário, cada um que desenvolva seu próprio motivo para crer ou não crer em Deus, que, afinal, não passa de uma crença sem nenhuma comprovação. Ora, se Deus não passa de uma crença, não alçando nem mesmo o patamar de hipótese, tanto faz crer neste ou naquele deus, ou mesmo não crer em deus algum, afinal, é apenas um ponto de vista.
         Uma das ferramentas que o neoateísmo tem usado vez após vez para demonstrar seus postulados são os argumentos clássicos da lógica erística, que são enquadrados pelos neoateístas como “falácias”. Podemos citar aqui alguns deles, e explicar (embora se possa encontrar alguns vídeos sobre isso, feitos justamente por esse grupo de intelectuais de ponta) de que se tratam. Mas, primeiro, precisamos definir o que é uma falácia.
         Falácia é um argumento mendaz, que busca jogar uma cortina de fumaça sobre a questão, dificultando assim, a compreensão da mesma. Também pode se considerar um argumento falacioso aquele que, embora aparentemente seja verdadeiro, tenha algum erro de continuidade lógica que impeça a demonstração ou que a adultere. Falácia é afirmar sem dizer, e, quando acusado da sua afirmação, afirmar que nada está afirmando.
         O primeiro argumento do qual vamos tratar é o “argumentum ad hominem”. Este argumento, como o próprio nome sugere, é uma crítica feita não ao argumento, mas àquele que o propôs. A priori, nos parece um falseamento evidente, posto que aquele que propôs uma hipótese ser ou não possuidor deste ou daquele mérito não é uma condição de impugnação imediata da hipótese em si. Mas notem, ela não impugna a hipótese imediatamente. Há situações onde o argumentum ad hominem pode constituir impeditivo para a participação de um determinado elemento no debate. Por exemplo: “O juiz que vai julgar o caso da união homossexual no STF é gay”. Neste caso, vemos um argumentum ad hominem muito bem colocado, posto que o supracitado juiz não tem o direito de julgar uma causa sobre a qual ele seja parcial. Outro exemplo, ainda melhor colocado, de argumentum ad hominem, sendo este impugnativo da hipótese, não da pessoa seria uma discussão no senado sobre a legalização da profissão das prostitutas suscitada por um cafetão eleito senador (no Brasil falta pouco para isso). Neste caso, dizer que o sujeito que propôs a discussão sobre a “moralidade tacanha” que temos é uma pessoa que lucra com a imoralidade de determinados membros da sociedade é sim impugnadora da hipótese e da discussão como um todo. Nestes casos, o argumento é válido e gera impeditivo, seja na participação de um elemento no debate, seja do argumento em si.
         Outro argumento que é comumente associado às falácias é a inversão do ônus da prova. Ela parte do princípio de que quem faz uma afirmação é que tem de prová-la. Ora, isso é absurdo, posto que se assim fosse, ninguém poderia afirmar nada sem provar. Mas, de fato, existe a necessidade de provar algumas coisas. O que, então, precisamos provar? Precisamos provar aquilo que afirmarmos contra o senso comum. Um bom exemplo disso seria que se nós escrevêssemos aqui que no ano de mil e quinhentos morreu em Portugal um homem chamado Manoel, nenhum dos leitores acharia improvável. Mas, se continuássemos? E se afirmássemos que no ano de mil e quinhentos faleceu um Manoel em Lisboa? Ainda assim, estaríamos de acordo com o bom-senso da maioria e não precisaríamos provar nossa afirmação. E se prosseguíssemos? Se afirmássemos que em mil e quinhentos finou-se em Lisboa Manoel Pereira? Ora, ainda é uma afirmativa plausível, mas não porque todos os portugueses se chamem Manoel Pereira, mas porque cremos que haja muitos Manoéis em Portugal. Isto posto, podemos inferir que o ônus da prova cabe a quem afirma contra o senso comum da humanidade ou das pessoas de uma determinada sociedade.
         Na verdade, poderíamos ficar aqui a escrever sobre um sem-número de argumentos, como eles são comumente usados e quando podem ser usados sem serem falaciosos. Mas, sinteticamente, podemos afirmar que um argumento é válido ou não pela sua veracidade, e não pelo nome que foi dado a ele.
         Assim também podemos dizer das ideias. Como dizia o finado Orlando Fedeli (que Deus o tenha em bom lugar), “as ideias não se separam em modernas ou retrógradas, mas em verdadeiras ou falsas”. Algumas pessoas tem tentado impugnar as ideias de acordo com a sua idade, não com a sua veracidade. E isso também é uma falácia.
         Agora, analisemos o discurso dos neoateus. Com uma mão, nos afagam e nos dão suas migalhas, dizendo sempre que creem firmemente na igualdade de todos os homens perante a lei, e com a outra mão nos apedrejam, afirmando categoricamente que uma bancada evangélica ou católica nos parlamentos impede a laicidade do Estado, ou que não são contra as religiões, desde que elas fiquem dentro dos templos. Com isso, na prática, perdemos o direito de representação (visto que somos a maioria) nas câmaras do poder legislativo, seja porque votamos em um candidato cristão, seja porque somos cristãos políticos e propomos leis de acordo com nossa visão do mundo aceita pelo estado, e perdemos, também, o direito à livre crença, tornando o Estado não laico, mas ateu, uma vez que nos templos ninguém é obrigado a ir, nem mesmo os religiosos, a não ser por uma obrigação devocional. Já nas escolas, onde se ensina ateísmo, as crianças são obrigadas por lei a ir. Mas mudemos o rumo das nossas abstrações, posto que em nível político não se resolve nada em matéria de religião e filosofia.
         Outro argumento comum dos neoateus é que eles não se importam com proselitismo. Então os ateus tem surgido de pés de alface? Evidentemente não. Na verdade, a mídia inteira, desde os programas mais infantis até as telenovelas com temas adultos sobre sexo, estão repletos de propaganda ateísta. No entanto, para facilitar o nosso estudo, falemos apenas sobre um canal da mídia: o youtube. Nele você pode confirmar a hipótese da propaganda ateísta a qualquer momento. Basta procurar que você poderá encontrar centenas de resultados de vídeos de ateus falando sobre o ateísmo e inferindo, sem nenhuma base, sempre, que o ateísmo é a visão mais lógica do mundo. Ora, se eles não praticam este tipo de “proselitismo nojento”, qual é o sentido de fazerem vídeos e se preocuparem em responder as centenas de milhares de comentários feitos em seus canais? E se eles “não estão afirmando nada”, qual é o sentido de seus vídeos? Evidentemente seus vídeos estão repletos de afirmações. Daí já se pode inferir a mendacidade destes grupos de seletos intelectuais. Este grupo, no entanto, não tem nem a integridade nem a inteligência necessárias para serem magarefes.
         O motivo para eu estar escrevendo sobre o tema foi um debate que ocorreu no dia nove de junho, e o nome do debate era “ateus contra cristãos”. Sem parcialidade, podemos afirmar que a vitória foi esmagadora dos cristãos, representados pelo vlogger Conde Loppeux de La Villanueva, Rodolfo Loreto, do site “Sentinela Católico” e Samuel Cardoso. O lado “delesateus” foi representado por Yuri Grecco, do canal “euateu”, Gulherme Tomishiyo, do canal “ciência no cotidiano” e Daniel Fraga.
         Este que vos escreve não é capaz de encontrar palavras para descrever a barbaridade contida na atitude dos neoateus. Desde o mais tenro princípio do debate, eles foram sempre incisivos nas críticas, evasivos nas respostas e - pasmem - mentirosos nas suas alegadas explicações!
         Não somos cá uns primores de cientistas, mas Guilherme Tomishyio, ao ser inquirido sobre haver ou não efeito sem causa, se algo poderia vir do nada, é aleivoso e afirma que o decaimento radioativo acontece sem causa. Não satisfazendo aos cristãos, que contrapuseram argumentos válidos a essa afirmação tendenciosa, ele afirma que o efeito casimir é decorrente do nada!
         Esta informação é evidentemente falsa, visto que nada é decorrente do nada, e o efeito casimir não é exceção à regra.
         Efeito casimir, grosso modo, em mecânica quântica, é o efeito causado pelas oscilações do vácuo em sistemas de baixa pressão. Só aí, temos um sem-número de especificações necessárias (causas) para que o efeito aconteça. Mas, não satisfeito, ele continua afirmando que o tal efeito é proveniente do nada! Isso evidentemente é um falseamento do conceito de nada. Ele conceitua aqui o nada como sendo o vácuo completo. Ora, não há o vácuo completo, e, mesmo se houvesse, o homem não é capaz de reproduzi-lo. E, mesmo que o sistema estivesse na mais completa vacuidade, ainda haveria tempo e espaço, portanto, algo. Em suma, não podemos aceitar que o efeito casimir seja decorrente do nada, nem mesmo se nossa concepção de nada for tão trôpega e grosseira como a vacuidade que Tomishyio propõe. Conceito este, aliás, que não é utilizado nem mesmo em ciência. Fica evidente, também, que o dito cientista apela à ignorância, tanto do público como do seu interlocutor, ao usar tal argumento. Uma vez que o decaimento radioativo é um fenômeno de conhecimento quase geral, ele usa seu conhecimento para pôr no tabuleiro uma teoria que só os físicos e matemáticos conhecem e que os contendores não poderiam contra-argumentar, uma vez que a filosofia é uma linguagem mais ou menos acessível a todos, enquanto que as ciências se valem do hermetismo para que seus conhecimentos não caiam na mão do vulgo, tal qual fizeram outras correntes heréticas, como o Platonismo, o Aristotelismo, o Rosacrucianismo e a Maçonaria. Yuri Grecco, neste debate, chega a dizer que a única visão do mundo realmente capaz de explicar o mundo é a ciência. Expliquemos o absurdo: suponhamos, apenas suponhamos, que Darwin esteja certo, e que nós somos apenas animais que evoluíram de um ancestral comum aos macacos. Podemos legalizar o aborto? Podemos legalizar a pedofilia? Podemos cometer adultério? Como podemos ver, a ciência é útil apenas para explicar alguns fenômenos de ordem natural. Mas podemos ver que nem mesmo no âmbito da ciência o método científico pode ser utilizado em todas as áreas. Podemos citar as ciências biológicas como exemplo de ciência que não usa o método científico. As ciências biológicas trabalham quase que exclusivamente com a catalogação de espécies e suas respectivas taxonomias, e, mesmo que aceitássemos a evolução como uma teoria válida, ela não poderia estar mais longe do método científico, pois não pode ser experimentada e provada verdadeira.
         Ao falar de ética, mais uma vez erroneamente, os ateus disseram que a moralidade surgiu da razão humana, para a coesão social e por motivos egoístas de sobrevivência. Podemos consultar Platão sobre isso. Em seu livro “A República”, há um personagem chamado Telêmaco que é um homem que, quando observado, age de acordo com a mais estrita moral. No entanto, acha proveitoso agir de maneira imoral quando os seus compatriotas não podem vê-lo. Ora, se Platão escreveu sobre isto e a isto dedicou um capítulo inteiro de seu livro, devia ser um pensamento comum nos gregos de sua época. Mas podemos ir além: Platão nos ensina que a moral surgiu por dois motivos: para defender os fracos, algo que, obviamente, não traria nenhuma vantagem evolutiva, e para honrar aos deuses, escusado o erro frente à falta da Revelação Divina na figura de Jesus Cristo. Ora, se a moral tivesse, de fato, originado-se exclusivamente da razão humana, qual era o papel dos deuses neste código insólito? Aliás, ficou muitíssimo evidente que nenhum ateu neste debate sabia sequer o que é a moral. Para eles, a moral se resume em “o que é bom para o ser humano”. Mas, na verdade, a moral mais se aproxima do oposto disso. A moral envolve sempre sacrifícios de parte de um em detrimento de outro. A moral, como bem nos explica Platão na figura de Telêmaco, é sempre desvantajosa. Os conceitos destes senhores sobre moral são risíveis. Em seus vídeos sobre moral eles dizem, entre outras coisas, que determinados códigos morais, como o dos judeus no Antigo Testamento, por exemplo, são hoje imorais. Nós convidamos os senhores a nos explicar onde foi que Jesus nos disse que era errado cortar a mão de um ladrão. Cortar a mão de um ladrão não é errado, posto que Deus não possa nos ensinar coisas erradas ou nos dar códigos morais errados. No entanto, com a Revelação, ele nos mostra que, embora cortar a mão de um ladrão seja certo, é melhor que se aja com misericórdia. É melhor que se perdoe. Afinal de contas, não queremos nós, culpados, que Nosso Senhor nos perdoe? Como poderia Ele estar inclinado a perdoar o homem, que Lhe é inferior, se o homem não perdoa o que lhe é igual? Aliás, usarei aqui um argumentum ad hominem, imagino eu que bem colocado. O senhor Yuri Grecco afirma categoricamente em um de seus vídeos que odeia as religiões, e continua dizendo “umas mais do que outras”. É evidente que ele se refere aqui ao cristianismo, e, mais especificamente, à Santa Madre Igreja. Quem lucraria com a sua desmoralização, a sociedade ou o senhor Yuri Grecco, inimigo aberto de tudo aquilo que os homens fazem para serem bons? Já o senhor Guilherme Tomishyio é homossexual militante, e as normas de conduta vigentes nas sociedades cristãs, embora respeitem sua condição (não opção), relegam o homossexualismo a condição de imoralidade. Quem ganharia com um estado ateu, a sociedade ou o senhor Tomishiyo? Ora, vendo que a sociedade não ganhará nada com a revisão de seu código moral, apenas estes distintos senhores, a que conclusão podemos chegar? Que eles realmente acreditam que isto é o melhor para o mundo? Evidentemente não. Eles não estão militando o ateísmo “por um mundo melhor” (se é que isso é possível), estão fazendo isso apenas porque é interessante para suas finalidades egoístas, que são: acabar com a família, a religião e o Estado.
                  Ficou, a meu ver, muitíssimo evidente quem saiu vitorioso deste embate, muito embora este que vos escreve não concorde com algumas estratégias que os cristãos tomaram durante o debate. Nós calculamos que havia caminhos mais curtos para uma vitória muito mais completa, mas deixamos isso por conta dos próximos debates. Na contenda, ficou óbvio que o senhor Yuri Grecco não é capaz de tecer argumentos, uma vez que ele somente decorou o nome de uma meia dúzia de nomes latinos e apenas os repetiu arbitrariamente, mesmo que em nada se parecessem com um falseamento. Quanto ao senhor Tomishyo, que parece ser mais racional e sensato, mera ilusão! Em seus vídeos ele afirma categoricamente que pessoas religiosas são pobres e sem instrução, além de confessar que pensa que todos os que creem em Deus são sempre “burros ou hipócritas”. Foi dito durante o debate: “parece que os ateus pensam que tudo roda de acordo com o umbigo deles”. O comentário foi bem colocado, mas incompleto: os ateus se valeram de utilitarismo durante todo o debate, distorcendo os conceitos nos quais mesmo eles acreditam para parecerem conceitos ainda mais ateus, mudando algumas sutilezas em seus discursos quando lhes era conveniente, e assim por diante. Ficou mais que evidente a desonestidade dos senhores Daniel Fraga, Guilherme Tomishyio e Yuri Grecco durante este debate. Desonestidade esta que não fica só em nível intelectual. Os senhores supracitados são enganadores, perversos e malignos. O seu objetivo é sim fazer prosélitos para o seu funesto culto de Osíris, onde a morte é o melhor prêmio para quem mais pecar de acordo com sua própria vontade.
         Encerrando estas considerações sobre a discussão, dizemos apenas que o mundo está entrando agora em uma nova era, e, assim como na guerra foram desenvolvidas novas armas, mais covardes e destruidoras, assim também ocorreu no campo do debate ideológico. Cá, nós também temos de lidar com as novas armas destes grupos militantes, sejam lá do que forem. Entramos em uma era onde se afirma sem nada dizer, apenas para evitar os ônus provindos de uma afirmação, se afirma diferente daquilo que se quer afirmar, onde indivíduos de fala fácil e compreensão difícil são a regra entre os formadores de opinião, e, com a sobreposição de ideias, manipulam as opiniões das massas ignavas na direção que melhor lhes convier. Esta direção é, infelizmente, um mundo sem esperança, sem cores, onde tudo o que se pode esperar é a extinção.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Sobre o Debate entre Cristãos e Ateus

O que Yuri Grecco Pensa do mundo:
Sobre incesto e outras "liberdades individuais" que de individuais não tem nada, por afetarem toda a sociedade:

Sobre paternidade, miraculosamente contradizendo o que ele mesmo diz sobre liberdades individuais:

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Verdade, o Bem e a Beleza


         Esta semana reflitamos sobre a natureza das coisas, em sua magnificência, pois, como nos diz São Lucas, “quibus ipse ait dico vobis quia si hii tacuerint lapides clamabunt”. A natureza nos brada, de fato, a existência de Deus, da Verdade, do Bem e da Beleza. Ainda que os julgamentos pareçam arbitrários, sempre devemos lembrar que é pela razão que Deus nos revela Sua vontade. Portanto, é salutar pensar sobre Deus e Seus atributos: “Sed in lege Domine voluntas ejus et in lege ejus meditabitur die ac nocte”.
         Queremos, com isso, dizer que as pessoas que são guiadas pela fé, isto é, pessoas que não tem instrução são inferiores a nós? Decerto que não. Na verdade, elas estão mais perto que nós, que buscamos tantas racionalizações, do Reino dos Céus: “amen dico vobis quicumque non acceperit Regnum Dei sicut puer non entrabit in illud”. E, não é este mesmo nosso objetivo? Salvar nossas almas, e ajudar a salvar as almas de nossos irmãos?
         Uma vez feita a introdução, passemos para as nossas reflexões. É comum hoje em dia, se dizer que a verdade não existe e que “bem” e “beleza” são conceitos relativos, valores subjetivos. Mas seria isso verdadeiro? Ora, a própria frase “a verdade não existe” é, por si só, uma frase autodestrutiva. Suponhamos, apenas suponhamos, que a pessoa que disse isso tivesse razão. Neste caso, a verdade não existiria, o que, por si só, constituiria o corpo de uma verdade. Logo, haveria uma verdade, a verdade de que não há verdade. Havendo, portanto, verdade, a pessoa que disse não haver verdade estaria errada. Caso haja verdade, a pessoa que disse não haver verdade simplesmente estaria errada. Ponhamos à prova as hipóteses. Digamos que hoje esteja nublado no Rio de Janeiro, mais especificamente, na Penha, e que ontem, na mesma região, tenha chovido cântaros (o que, de fato, ocorreu). Se a verdade existe, e a afirmação acima estiver livre de falseamentos, então ela é verdadeira. Se a verdade não existe, no entanto, pode não ter chovido nesta região especificada na data especificada. Ora, é absurdo você imaginar que nunca mais vai poder dizer que choveu, fez sol, que você está a fazer qualquer coisa, tendo isso de fato ocorrido ou estando em curso, sem que seja considerado inverossímil. Já imaginaram, caros leitores, não poder fazer qualquer afirmação sem que esta seja, necessariamente, falsa, por não haver verdade? Ora, nem todas as afirmações são falsas, logo há verdade. Mas isso tem implicações filosóficas muito maiores do que aparentam à primeira vista. Isto porque nossos costumes e estilo de vida relativizam a verdade. Se a verdade fosse relativa, e demonstramos acima que não é, os conceitos de “bem” e de “beleza” também seriam.
         Há, no entanto, uma relação entre a verdade e o bem. A verdade é boa, a mentira é má. Logo, o que é iluminado pela verdade é o bem, o que não é, é o mau. O mau tem, desde o princípio, ligação com a mentira. Podemos comprovar isso desde o gênesis. Satanás disse a Eva: “nequaqam morte moriemini”, isto é, “positivamente não morrereis”. A própria inveja do anjo mau é inverossímil: mesmo que ele receba a adoração de todos os seres, ele jamais se tornará Deus.
         Sendo a verdade uma medida objetiva, ela existe, e é perceptível e imutável, o bem, sendo decorrente da verdade, também precisa ser objetivo, perceptível e imutável. Ora, sendo assim, o bem nada tem de subjetivo como pretendem os algozes das almas no mundo moderno. Isso significa que, por mais que eu odeie o bem e não me sinta bem com ele, ele não mudará pelo meu julgamento subjetivo. Se eu não me sinto bem orando, eu, por minha livre e espontânea vontade, estou me separando do bem.
         A beleza é decorrente da harmonia da verdade e do bem. A verdade é bela, o bem é belo. O que está em consonância com a verdade e com o bem é belo, o que é dissonante é feio. Desta forma, a beleza, sendo decorrente de dois valores objetivos, perceptíveis e imutáveis, é, também, imutável. Portanto, esses padrões de beleza “novos” que os meios de comunicação tentam nos impingir dia e noite devem ser, quase sempre, rejeitados. Digo isto especialmente em relação às artes. A arte moderna tenta relativizar a beleza. A música moderna tenta relativizar a harmonia. Relativizando em nossas mentes a beleza, é fácil relativizar o bem. Relativizando o bem, é fácil relativizar a verdade. Tenhamos sempre em mente que os bons atributos que vem de Deus, como a sabedoria, a paciência, a inteligência, a longanimidade, são sempre árduos, isto é, não nos dão descanso. “Sine intermissione orate”, nos adverte São Paulo. Mas, aos maus atributos que vem do nosso inimigo, basta que nos rendamos. Sigamos a advertência de São Paulo, oremos sem cessar, pois só assim poderemos cultivar a verdade, o bem e a beleza em nossas almas.
         Ora pro nobis sancta Dei Genitrix,
         Ut digni efficamur promissionibus Christe.


                                                        H.P. Cunha

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Santo Tomás de Aquino contra Feuerbach e Todo o Pensamento Materialista


                Certa vez, conversando com meu cunhado, cujo qual é psicólogo, tentei invocar as provas da existência de Deus. Ele, evidentemente, as rejeitou de pronto. Afinal, como psicólogo ele é uma autoridade quando o assunto é religião, especialmente por não ter lido nenhum dos grandes livros da religião ocidental, como “A Ilíada”, “A Odisséia” ou as Sagradas Escrituras. E o motivo para tanto é óbvio: evidências não tem o mesmo peso que provas, e o que eu disse foram só palavras carregadas de conjeturas e inferências. Todavia, será que é bem assim?
                Consideremos a matemática, que é uma ciência do campo da lógica, e é universalmente aceita, não como indicativa, mas como probática. Suponhamos que eu escreva que um mais um é iguala dois. Este axioma está correto? Sim, sempre. Agora consideremos as semelhanças entre a matemática e o encadeamento lógico: se eu pego uma batata e ponho ao lado de outra, tenho duas batatas, se a ponho ao lado do forno, tenho dois objetos quaisquer. No entanto, se apenas digo: “Um mais um são dois”, não tenho nada além de uma abstração humana, por mais objetivamente útil e óbvia que ela possa parecer. Da mesma forma, quando digo que a soma dos quadrados dos catetos é igual à hipotenusa, tenho uma abstração construída sobre uma abstração. No entanto, esta abstração está correta, pois o uso diário de engenheiros e arquitetos comprova a mesma. Porém, a axiomática contida na resolução do problema é especulativa, pois não se trata de medidas exatas, e sim de números com precisão relativa e que são, em si só, símbolos da realidade.
                A ciência, no entanto, usa uma parte do pensamento lógico para tentar comprovar que o mundo natural é produto do próprio mundo natural. Mas será isso possível? A lógica nos diz que não, e darei apenas um de muitos exemplos das provas da existência de Deus, um simples de se compreender. Se o mundo existe, supõe-se que ele seja o fruto de um encadeamento de causas e efeitos. Ora, ou essa cadeia de eventos é finita ou é infinita. Ela não pode ser infinita, porque haveria uma causa antes da causa primeira que seria a causa primeira, e haveria outra causa antes dela, e outra antes dessa, numa sucessão infinita de causas e efeitos, e, por isso, não havendo causa primeira, não haveria causa segunda, nem causa terceira, e seus respectivos efeitos, e, desse modo, não haveria nada. Percebemos que há coisas, portanto, a sucessão de causalidade é finita. Logo, há causa primeira. Mas será essa causa necessariamente inteligente? Sim. Vemos no mundo que toda a ordem pressupõe um ordenador, e quanto maior a ordem maior é a inteligência do ordenador. Ora, vemos que há perfeita ordem na criação. O planeta Terra está exatamente onde tem de estar para haver vida, de forma que a Terra nem é muito quente nem muito fria, possibilitando que haja água em estado líquido, componente essencial para a vida como a conhecemos. Além disso, o nosso planeta tem um centro composto de ferro fundido, que, funcionando como um dínamo, cria um campo eletromagnético essencial para haver vida pluricelular. Não parece providencial? Não haveria nisso “kosmos”? E cito apenas uns poucos exemplos que me vem à mente. Ora, uma ordem perfeita supõe uma causa primeira com inteligência perfeita. Logo, Deus, que é a inteligência perfeita (embora incogniscível), existe, e é por isso que todas as teorias da ciência estão cheias de pensamentos “ad hoc”, criados exclusivamente para sanar as deficiências de sua trôpega explicação multimétrica do mundo.
                Ambos os raciocínios, o matemático e o lógico discursivo, foram desenvolvidos pelos mesmos parâmetros. São inferências lógicas da realidade, embasados na experiência subjetiva do homem, mas que, objetivamente, tendem a se demonstrar reais pela experimentação. Deveríamos tomar as provas da existência de Deus como falaciosas? Ora, a matemática é que está inserida na lógica, e não o contrário. Se não aceitamos o encadeamento lógico das coisas para provar a existência de Deus, porque deveríamos aceitá-lo de uma forma menor para “comprovar” a sua inexistência?


                                                                                 H.P.Cunha