Quem sou eu

sábado, 30 de janeiro de 2016

Por que sou conservador?

Por Paulo H. P. Cunha


         Não faz muito tempo, minha mãe me perguntou por que, com toda a minha capacidade, eu não faço um concurso público e passo a ganhar algum dinheiro com pouco trabalho. Insistia dizendo que minha inteligência deve ser usada para ganhar dinheiro – e da forma mais fácil possível.
         Este não é, nem de longe, um pensamento incomum entre os brasileiros. Passar em um concurso público, tornar-se aspone do governo e contribuir com todo o problema, ver toda a inteligência enterrada debaixo de toneladas de burocracia, parece ser a vocação de qualquer que nasça nessas terras descobertas por Cabral.
         O que não entende, no entanto, a maioria de nosso povo é que a inteligência é um fim em si mesmo e é, ela mesma, a recompensa de sua busca. Uma pessoa inteligente é mais propensa, por exemplo, a identificar e tentar erradicar problemas (muito embora isso não pareça verdade por aqui – onde toda a inteligência é cooptada pelo estado para tornar as coisas cada vez mais ineficientes, exceto a cobrança dos tributos). E eu identifico e reduzo todos os problemas em quatro níveis: educação pública, saúde pública, segurança pública e administração pública.
         É claro, parece revolucionário para qualquer brasileiro, mas eu garanto que isso não é qualquer novidade acima do outro trópico. Por aqui, só vemos pessoas reclamando por mais educação, mais saúde – e de qualidade! – mais segurança e por uma administração pública responsável, seja lá o que isso quer dizer. Dizem os pobres coitados que sem brizolões, aqueles presídios feitos para a juventude delinquir pelo detestável Darcy Ribeiro, seria impossível que os pobres fossem alfabetizados, por exemplo. Mas esse seria um discurso ideológico, muito mais que um discurso que atesta uma verdade?
         Lembremo-nos do porco Napoleão. Assim que ele expulsa Bola de Neve da fazenda, qual é a primeira coisa que ele faz? Pega os filhotinhos da cadela para educa-los, e por um tempo ninguém os vê. Quando eles estão adultos, no primeiro motim, são os filhotes, agora crescidos, que botam ordem na fazenda, impondo terror nos corações dos outros animais. Eis o que querem os que pedem “mais educação” (que, não raro, são professores). Pare e pense: onde foi que você aprendeu que o problema é que no Brasil não tem educação pública de qualidade? Eu poderia apostar – e certamente ganharia – que foi na escola. Agora, pense: qual professor vai te dizer que ele é parte do problema? Qual deles vai admitir que ele mesmo teve uma formação deficiente, que ele mesmo foi muito mais doutrinado em ideologias que ensinado (veja o simples fato de Paulo Freire ser considerado patrono da educação. Justo ele, que nunca educou ninguém. E, antes dele, nosso “maior” educador ter sido Darcy Ribeiro, um homem provinciano e com ideias pervertidas pelo socialismo. Um Brasil que ainda estuda Vigotsky e Piaget, dois pedagogos que não são mais aceitos em lugar nenhum no mundo, e por aí vai...)? Qual professor vai te dizer que é muito mais útil que se aprenda a ler em casa e que, com o tempo, se forme uma elite de verdadeiros pensadores, em vez de glorificarmos Valesca Popozuda? Antes disso, é muito mais simples e fácil (até porque ele mesmo aprendeu assim) desviar a sua atenção do problema real, de que há poucos professores bons e que, mesmo esses poucos, são obrigados a doutrinar e não a ensinar nossas crianças em vez de educa-las para o bom, o belo e a verdade? É muito mais fácil dizer que o Brasil é um esgoto aberto porque não temos escolas o suficiente, mas tirarmos o direito dos pais ensinarem em casa e de acordo com suas convicções.
         E na área da saúde? Qual médico vai admitir que o problema é que ele pode ter vários empregos no município, no estado e na união, não precisa comparecer em nenhum deles para ganhar seu salário, e ainda abre sua própria clínica para complementar seu dinheiro? Quem vai dizer que as UPAs (e os hospitais e postos de saúde antes delas) não funcionam porque os médicos não atendem e ainda têm um sindicato forte o suficiente para dizer que um médico de UPA não pode receber por consulta (isso o obrigaria a trabalhar)? Qual médico vai admitir que a sociedade ganharia muito mais se cada médico tivesse seu próprio consultório (ou trabalhasse em um hospital particular), e as operadoras não detivessem o monopólio do mercado de planos de saúde, como era na era FHC?
         E na segurança? Qual policial vai admitir que jamais, em tempo algum, haverá um policial para cada cidadão e que, se houver, o País cairá sob o tacão da sociedade policial, como no romance “1984”, e todas as liberdades civis serão suprimidas? Qual soldado das Forças Armadas admitirá que elas estão à disposição do governo e que, portanto, elas não obedecem aos melhores interesses da Nação, senão aos interesses do Presidente e depois do Senado e que, desta forma, uma sociedade desarmada não tem ninguém que os defenda da tirania, se esta for implantada? Qual soldado irá dizer que é do melhor interesse do País que o estado não detenha o “monopólio da violência”?
         Quanto aos políticos, embora pareça que nada precisa ser dito, dados os últimos acontecimentos, esta assertiva fica só nas aparências, mesmo. “Administração pública responsável”, grita a verborragia estatista. Como se o problema fosse a responsabilidade do administrador, não a quantidade mastodôntica de administradores e dos impostos e burocracia que eles criam. Se toda a burocracia é uma forma de dificultar a vida do cidadão comum, e esta é a única função do estado – diminuir a velocidade das coisas para que nada perca o controle – e se as maiores inteligências do País esforçam-se apenas para entrar nesta máquina esmagadora de gerar burocracia que é o funcionalismo público, não é exagero pensar que, enquanto no Canadá, na América, no Japão e em toda a Nação livre e próspera no mundo se pensa em soluções para cada problema, no Brasil se pensa em problemas para cada solução. No ramo da telefonia, por exemplo, não há muito tempo, uma determinada operadora oferecia serviço de internet a R$ 0,50 ao dia. Uma outra resolveu oferecer serviço de mídias sociais ilimitado. Qual foi a solução da maior operadora do Brasil? Criar um portfólio à altura? Tornar os preços mais competitivos? Claro que não. Afinal, estamos no Brasil, o País apaixonado por monopólios estatais. O que ela fez foi processar as outras duas por “concorrência desleal” (eu não estou certo das acusações feitas a nenhuma das duas sob este pretexto, mas tenho certeza de que foram embasadas no aclamado “marco civil regulatório da internet”). E o pior: ganhou.
         O monopólio estatal é tão grande que o estado tem você. Você é propriedade do estado. Se você quiser trabalhar, precisa ser pelo preço que eles estipulam, sob as condições que eles impõe (mesmo que você discorde delas), pelo tempo que eles determinam. Se você acha que pode trabalhar por um valor maior, meu amigo, ledo engano. Você vai pagar tantos impostos que, no fim, só vai te sobrar um salário mínimo.
         Enfim, a única coisa que eu queria dizer com este texto é que a crise no Brasil, antes de ser política, é de cunho moral. O brasileiro se esqueceu do que é a liberdade. É claro que a solução para a crise passa pela política. Afinal, com um governo socialista, vai ser impossível ter qualquer nível de liberdade civil que seja suficiente mesmo para a dignidade humana. Mas não é porque o problema passa pela política que a solução é inteiramente política.

         Da próxima vez que você disser ou pensar: “isso aqui é Brasil”, lembre-se de que o Brasil é só um espaço geográfico. O verdadeiro Brasil é você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário