Quem sou eu

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Então, é Natal... Só Que Não.


Mais uma vez, o Natal chega ao Mundo, e mais uma vez traz a promessa da vinda de Nosso Senhor a terra, só que, desta vez, com glória e esplendor.
                Para todos os cristãos, esta é uma época do ano muitíssimo feliz. As missas rezadas em todas as igrejas no dia vinte e quatro enchem de alegria, fé e esperança os corações de todos os fiéis. Alguns deles, no entanto, parecem não saber regular a própria felicidade e a atenção que imaginam merecer.
                Infelizmente a paróquia deste que vos escreve, a Nossa Senhora do Carmo, na Penha, é uma das piores paróquias do Rio de Janeiro. Até os gafanhotos que vivem nos jardins da igreja são revolucionários – ao menos esta é a impressão que nos passa. Durante a missa de Natal, parecia-nos que o povo achava que estava a rezar a missa junto ao padre. As respostas, infalivelmente repetidas pela multidão, saíam quase que automaticamente. Mas o problema não esteve nisso. Se fosse só por isso, talvez esta missiva estivesse até mesmo – pasmem – elogiando a "missa". Mas precisava continuar.
                O Pai Nosso foi recitado com as mãos dadas, à moda dos hippies maconheiros dos anos setenta, ou dos heréticos rosacruzes “amorquianos” que imaginam ser o fato de dar as mãos uma forma mais expressiva de trocar a “energia” com o ambiente. Até aí, quase corriqueiro nas paróquias de hoje em dia. Mas foi o “Ite, Missa Est” que realmente nos assustou. Antes de despedir a comunidade, o padre local (de quem o nome, à maneira de Rumpeltilskin, é uma incógnita para nós), treinou, coreografou e permitiu que algumas meninas se apresentassem em um mini espetáculo de balé pela igreja, e a audiência (não ouso chama-los fiéis) aplaudiu.
                Ora, não sabem todos, depois de centenas de banners, flyers, citações, que balé na igreja é abuso litúrgico? Que não é permitido pelo Papa? Nós, de nossa parte, consideramos abuso o simples fato de a missa não ser a “missa de sempre”, como ordena a bula quo primum tempore, mas até para os “moderninhos” isto deveria ser inadmissível! Onde está o decoro? Onde está o respeito pelo sagrado? Onde está a adoração a Deus?
                De fato, o setor da Igreja chamado “sedevacantista”, mesmo sem sê-lo, está correto desde a ponta dos cabelos até a sola dos pés ao dizer que a "missa" nova é uma adoração não a Deus, mas ao homem!
                Nunca antes de 1964 uma cadeira para o padre ficaria atrás do altar, no lugar de maior destaque da igreja! Afinal é a Jesus – não ao padre – que se deve adoração. Hoje, em contrapartida, vemos verdadeiros tronos, na mais alta nave da igreja, e, sentados neles, os atros canalhas revolucionários que um dia ousaram ser ordenados sacerdotes, com a intenção única de destruir a Santa Igreja por dentro, seja através de tamanha incontinência, seja tornando-a mais “popular”.
                A Igreja de Deus não é popular. A Igreja de Deus solicita de seus fiéis orações e mortificações que quase nenhum cumpre. Jejuns pulados e uma vida mundana, voltada para a filantropia, nunca a verdadeira caridade, destruíram a maior parte do sacerdócio, e, hoje, as pessoas pensam poder ser santas vivendo vidas com “relativo” mundanismo. Pensam fazer parte da vida do cristão festinhas, aniversários, danças eróticas, e, last not least, o sexo desinibido de nossa época. Santo Antônio do Deserto, São Bento da Núrsia (que punha pulgas nas próprias túnicas para aumentar o sofrimento da vida), São Francisco de Assis (que aspergia cinzas sobre todas as suas refeições, para nunca pecar pela gula), São Tomás Morus (que sempre usava cilícios), São Bernardo de Claravau (patrono da ordem dos Templários), e Santa Joana D’Arc (que teve a nobre missão de acabar com o pesado jugo inglês sobre a França – pela guerra – e foi martirizada pouco depois) devem se envergonhar desta geração de catoliquinhos ripongas água-com-açúcar pacifistas que nunca suportaram o sofrimento na vida e querem entrar no reino dos céus.
                “Pegue sua cruz e me siga”, nos disse nosso Mestre. Quem ousa contradizê-Lo e fazer do cristianismo um caminho fácil?


                                                                                      H.P. Cunha.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Um Dia Feliz


“Eis a prova de que o Brasil não é mais um país cristão”. Esta frase seria o suficiente para acabar com o dia de qualquer um, mais ainda se fosse ouvida logo pela manhã, por alguém atrasado para o trabalho. A pérola em questão não poderia ter vindo de outra ostra: um neoateu.
Explico: a conclusão magnífica a qual chegou nosso molusco (nenhuma referência política) foi baseada nos dados estatísticos perfeitos, os quais ele dispunha de todos, da preferência entre a folga no Natal ou Ano Novo em uma central de atendimento no Rio de Janeiro. Na escala referida, a maioria franca dos operadores preferiria folgar no Ano Novo (embora nós, que tivemos em mãos a mesma escala, não a possamos analisar com a mesma perspicácia e rapidez de nosso “amigo”). Mas, evidentemente, esta é uma conclusão precipitada, mesmo para uma divagação apriorística.
Em primeiro lugar, sabemos muito bem que uma central de tele atendimento não é exatamente o que se pode chamar de “grupo de controle”. Primeiro porque é um dado que, salvo excepcionais exceções, todos trabalham nos dois feriados. Depois, porque as raras almas que terão qualquer folga são apenas os vencedores das campanhas internas de motivação. Em terceiro lugar, a maioria dos homens que trabalham numa central de atendimento são homossexuais, e a maioria das mulheres, de pouca moral. Os que restam são, quase que invariavelmente, modernistas e relativistas (quando não gnósticos, agnósticos ou ateus, os “esclarecidos” de nossa época). Junta-se a isso o fato de os homens todos de nossa época serem incontinentes. Dê-se a eles as alternativas: uma noite quase inteira na igreja ou duas noites de bebedeira, esbórnia e sexo. Qual das duas o leitor acha que um teleoperador médio escolherá?
Mas não são somente estes os motivos que tornam esta pérola digna de uma nota, ainda que no rodapé das citações mais esdrúxulas de todos os tempos. O que torna a citação digna da memória do fracasso é justamente o fato de ela ser tão apriorística que desconsidera fatores decisivos.
Nos últimos anos, vem sendo realizado um esforço tremendo por parte de uma determinada elite do mundo, todos eles ateus (ou assim se declaram para suas finalidades espúrias), todos eles revolucionários, todos eles libertários, para tornar o Natal, bem como a Páscoa, em feriados meramente comerciais.  Isto, ao menos nos grandes centros urbanos, é facilmente perceptível, uma vez que todas as referências a Jesus foram trocadas por Papai Noel. As crianças desta geração, salvo as de famílias mais conservadoras, nem ao menos sabem que o Natal é o Advento do Salvador da Humanidade. Muitas crianças de nossa época imaginam se tratar o Natal da época do ano em que Papai Noel distribui benesses para aqueles que se comportaram bem durante o ano. Nada mais. E isto é muito facilmente perceptível, uma vez que a mídia faz um tremendo estardalhaço com o Natal, fazendo comerciais com Papai Noel, filmes com Papai Noel, e os filmes tradicionalmente associados ao Natal (lembro-me de um filme que tratava de Artaban e sua odisseia para ver Jesus, e, no fim, o via apenas de passagem na Via Crucis) ficam relegados à classificação de “filmes b”, que ninguém assiste, ninguém liga. E este esforço está culminando no esvaziamento do simbolismo dos feriados religiosos (“se não pode derrota-los, substitua-los”).
De posse destes dados, pode-se afirmar: “eis aí a prova de que o Brasil não é mais um país cristão”? Ou seria este apenas um chavão da fraseologia neoateísta, repetida “ad nauseam” por gênios de renome, como Pirulla e Yuri Grecco?



                                                                     H.P.Cunha.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Der Biergeist





Alguns anos atrás, este que vos fala exclusivamente tomava vinhos. Nós nunca imaginamos que seria uma coisa boa para a saúde ou para o mundo a abstenção, salvo em algumas situações muitíssimo especiais. E, desfrutando este tão efêmero prazer da bebida, tomávamos apenas vinhos, nunca sem tomar extremo cuidado com a excelente qualidade do líquido.
Os anos foram se passando, e ficou claro que o vinho era, sobretudo, uma enorme afetação de sofisticação. Não que o vinho não seja uma bebida sofisticada, mas ele tem o poder quase sobrenatural de fazer quem quer que o beba parecer muito sofisticado, de forma que as afetações quase transexuais como a percepção de aromas de "pele de raposa" (distinguível apenas para caçadores ingleses, imagino...), madeiras de lei (alguém aqui já comeu carvalho? Imagino que a maioria nunca nemao menos viu carvalho...), e os genéricos "floral" e "frutado" (coisas que todos os "sommeliers" de botequim dizem quando não sabem como analisar a bebida) se tornaram quase insuportáveis para este humilde narrador.
Foi então que nós descobrimos o mundo encantado das cervejas, quase diametralmente oposto ao dos vinhos.
Por quê tão diferente? Não há "sommeliers" de cerveja?
É claro que há. As cervejas também apresentam aromas diversificados, alguns bastante exóticos. Mas a cerveja é uma bebida comum, para o dia-a-dia, por isso não é travestida com toda aquela afetação de bebida sofisticada. É claro, também, que há cervejas melhores e cervejas piores, e há muitos tipos de cervejas. Umas são mais amargas, outras são mais aromáticas, e outras, ainda, levam especiarias em suas receitas. Mas a diferença, como diz o título, está no "espírito da cerveja".
Aristóteles já havia classificado várias casas de uvas, e quais seriam melhores para a vinificação. Em 500 a.C., os antigos Gregos já haviam desenvolvido tamanha proficiência técnica na preparação dos vinhos (sempre considerados bebidas dos deuses), que já tinham cestos especializados para a colheita de uvas, de forma que fosse colhida apenas a quantidade exata de uvas para não pesar sobre as do fundo, de forma que as bagas não se rompessem e começassem a fermentação sem supervisão. O vinho foi consumido, desde então, nas heliogabálicas bacanais romanas, nas festas da baixa Idade Média, e foi aí onde tudo começou. O vinho, por ser o Sangue de Cristo, se tornou bebida de gente importante, e ganhou ares de elegância, consumido em profusão pela tediosa aristocracia europeia da Renascença e dos enfastiantes reis da França dos séculos XVI ao XIX. A cerveja, por outro lado, era uma bebida artesanal, feita em geral para consumo próprio entre as classes menos abastadas da mesma Europa. E é aí que está o “espírito da cerveja”: é uma bebida para o lar, para as comemorações dos homens simples, sem muita cultura.  Não é necessário dizer que a cerveja está com sabor de “pele de raposa” (embora este não seja um aroma comum na bebida). Cerveja que não está boa, está “choca”.
Mas o que mais chama a atenção para esta bebida desenvolvida por monges católicos é que ela, muito embora seja uma bebida de homens comuns, não dispensa a boa e velha ritualística do homem civilizado. Há uma enorme diversidade de copos, um para cada tipo de cerveja, e um tipo de cerveja para cada homem, mulher e criança.
Para os de paladares mais sofisticados, há aquelas com mais aromas, mais maltes e menos cereais não malteados. Para os menos sofisticados, há aquelas bastante refrescantes e com menos lúpulos, menos amargas. Para as mulheres, há as cervejas mais doces, como a Malzbier e a Dunkel. E, para as crianças, há aquelas sem teor alcoólico como as Ginger Ale e as Root Beers, que, muito embora não sejam exatamente cervejas, são bebidas não industrializadas ótimas para os mais novos.
E foi exatamente assim que esta bebida conquistou este que vos fala, muito aos pouquinhos. Ela é uma bebida versátil, para a intimidade, com algo de sofisticado, sem, no entanto, parecer empolada. Aqueles que quiserem experimentar um pouco desta maravilhosa bebida não se arrependerão.


 H.P. Cunha

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Sobre a Técnica


Ouvimos diariamente que a ciência tem as explicações corretas para o mundo e tudo aquilo que vemos.  Sendo críticos no sentido estrito, devemos nos perguntar incessantemente: seria esta uma verdade? Conteria a ciência as explicações para todos os fenômenos conhecidos pelo homem? Para respondermos a estas perguntas, precisamos, antes de mais nada, definir o que é a ciência e separá-la das ciências que outrora o homem desenvolveu.
A ciência moderna, que tem um modelo mecanicista e reducionista do mundo, começou justamente com Descartes e seu subjetivismo: “cogito ergo sum”. Acontece que a lógica já era um ramo do conhecimento completamente estabelecido, e esta lógica afirmava (e provava) a entidade e Deus. A única maneira de não afirmar a deidade era criar uma lógica inteiramente nova e diversa daquele ramo de conhecimento tão bem estabelecido naqueles tempos: a lógica cartesiana, em contraposição à lógica aristotélica. Na ciência tradicional, nos lembra Aristóteles, a matemática é útil enquanto parte de um sistema lógico, mas ela jamais deve ser utilizada como forma última de comprovar os fenômenos devido ao fato de ela apenas poder lidar com quantidades, e não com as qualidades, que, para os antigos cientistas, eram tão ou mais importantes que as medidas dos seres. É Descartes quem inaugura esta linha de pensamento cientificista onde a prova matemática é definitiva e a prova lógica é posta em segundo plano. Nós podemos, inclusive, afirmar que Descartes buscou inspiração em Demócrito e Leucipo, duas nulidades de seu tempo e várias vezes desmascarados como farsantes por diversos filósofos, não pela teoria atomista, mas pela teoria materialista.
Finalmente, vamos ao cerne do assunto: a ciência se baseia no método empírico, onde, através da reprodução de determinados fenômenos, eles poderiam inferir se suas teorias estão corretas ou não. Aristóteles, no entanto, nos lembra que a técnica nada tem a ver com a teoria, isto é, a teoria pode estar completamente errada, mas a técnica sempre reproduzirá os mesmos efeitos. Parece absurdo? Vamos tomar como exemplo a civilização chinesa. Os chineses sempre foram ótimos matemáticos, mas acreditavam na existência de duas energias: Yin (feminino, seria o estado inerte da matéria e da energia) e Yang (masculino, seria o estado onde matéria e energia se movem). Eles sempre demonstraram a existência destas duas energias através da pólvora e da bússola. No entanto, sabemos que não há nem energia Yin, nem Yang. Ainda não estão satisfeitos, caros leitores? Pois bem...
Imaginemos, agora, que os chineses tivessem descoberto a eletricidade, tal como Franklin, com um pequeno objeto metálico preso a uma pipa. Ora, eles não chamariam esta energia de eletricidade, e nem ao menos a considerariam uma energia separada, uma vez que os relâmpagos são Yang, e a força adveio deles. Agora, suponhamos que um deles, por acidente, tenha descoberto que, passando uma corrente de Yang entre dois pedaços próximos de carvão, era possível criar uma luz mais fácil de controlar que a luz do fogo. Evidentemente, haveria pesquisas no sentido de criar melhores lâmpadas e seria uma questão de tempo até o filamento de papelão. Uma vez descoberta a lâmpada, seria simples imaginar transistores e computadores e pronto! A informática existiria sem explicações cientificistas! Assim poderia ser com tudo: a descoberta do petróleo e suas aplicações, galvanização, viagens espaciais... basta usar a imaginação que a ciência moderna completa caberia dentro desta explicação.
O que nós queremos dizer com isto? Simples: a tecnologia se desenvolve através do estudo dos dispositivos que já foram inventados, e não com base nas explicações metafísicas da realidade. Desta forma, o empirismo como filosofia pode ser comprovadamente falso e falacioso. Ou seja: o desenvolvimento técnico não necessariamente acompanha uma explicação adequada. A pergunta que nos move é: seria a ciência a explicação adequada?

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O Discurso Falacioso do Ateísmo Militante


         Ao ouvir o discurso dos neoateus, fica clara sua intenção racional e legítima de querer explicar um mundo sem Deus. Afinal de contas, estamos em uma democracia com liberdade para cada um crer no que quiser. Estes neoateus sempre começam seus artigos dizendo que são tolerantes, amigos dos cristãos, que não tem contra nós e nosso Deus nenhuma inimizade, e que apenas discordam de nossa visão de mundo. Que, justamente por se importarem conosco, falam e repetem que não há Deus. Afinal, se eles tivessem razão (e eles acham que tem), estariam apenas tentando abrir os nossos olhos para não sermos enganados por espertalhões e que, se realmente cremos no nosso Deus e nos importamos com “eles, ateus”, faríamos o mesmo.
         De fato, a coisa que o neoateísmo militante mais faz é dizer que não busca prosélitos, ao contrário, cada um que desenvolva seu próprio motivo para crer ou não crer em Deus, que, afinal, não passa de uma crença sem nenhuma comprovação. Ora, se Deus não passa de uma crença, não alçando nem mesmo o patamar de hipótese, tanto faz crer neste ou naquele deus, ou mesmo não crer em deus algum, afinal, é apenas um ponto de vista.
         Uma das ferramentas que o neoateísmo tem usado vez após vez para demonstrar seus postulados são os argumentos clássicos da lógica erística, que são enquadrados pelos neoateístas como “falácias”. Podemos citar aqui alguns deles, e explicar (embora se possa encontrar alguns vídeos sobre isso, feitos justamente por esse grupo de intelectuais de ponta) de que se tratam. Mas, primeiro, precisamos definir o que é uma falácia.
         Falácia é um argumento mendaz, que busca jogar uma cortina de fumaça sobre a questão, dificultando assim, a compreensão da mesma. Também pode se considerar um argumento falacioso aquele que, embora aparentemente seja verdadeiro, tenha algum erro de continuidade lógica que impeça a demonstração ou que a adultere. Falácia é afirmar sem dizer, e, quando acusado da sua afirmação, afirmar que nada está afirmando.
         O primeiro argumento do qual vamos tratar é o “argumentum ad hominem”. Este argumento, como o próprio nome sugere, é uma crítica feita não ao argumento, mas àquele que o propôs. A priori, nos parece um falseamento evidente, posto que aquele que propôs uma hipótese ser ou não possuidor deste ou daquele mérito não é uma condição de impugnação imediata da hipótese em si. Mas notem, ela não impugna a hipótese imediatamente. Há situações onde o argumentum ad hominem pode constituir impeditivo para a participação de um determinado elemento no debate. Por exemplo: “O juiz que vai julgar o caso da união homossexual no STF é gay”. Neste caso, vemos um argumentum ad hominem muito bem colocado, posto que o supracitado juiz não tem o direito de julgar uma causa sobre a qual ele seja parcial. Outro exemplo, ainda melhor colocado, de argumentum ad hominem, sendo este impugnativo da hipótese, não da pessoa seria uma discussão no senado sobre a legalização da profissão das prostitutas suscitada por um cafetão eleito senador (no Brasil falta pouco para isso). Neste caso, dizer que o sujeito que propôs a discussão sobre a “moralidade tacanha” que temos é uma pessoa que lucra com a imoralidade de determinados membros da sociedade é sim impugnadora da hipótese e da discussão como um todo. Nestes casos, o argumento é válido e gera impeditivo, seja na participação de um elemento no debate, seja do argumento em si.
         Outro argumento que é comumente associado às falácias é a inversão do ônus da prova. Ela parte do princípio de que quem faz uma afirmação é que tem de prová-la. Ora, isso é absurdo, posto que se assim fosse, ninguém poderia afirmar nada sem provar. Mas, de fato, existe a necessidade de provar algumas coisas. O que, então, precisamos provar? Precisamos provar aquilo que afirmarmos contra o senso comum. Um bom exemplo disso seria que se nós escrevêssemos aqui que no ano de mil e quinhentos morreu em Portugal um homem chamado Manoel, nenhum dos leitores acharia improvável. Mas, se continuássemos? E se afirmássemos que no ano de mil e quinhentos faleceu um Manoel em Lisboa? Ainda assim, estaríamos de acordo com o bom-senso da maioria e não precisaríamos provar nossa afirmação. E se prosseguíssemos? Se afirmássemos que em mil e quinhentos finou-se em Lisboa Manoel Pereira? Ora, ainda é uma afirmativa plausível, mas não porque todos os portugueses se chamem Manoel Pereira, mas porque cremos que haja muitos Manoéis em Portugal. Isto posto, podemos inferir que o ônus da prova cabe a quem afirma contra o senso comum da humanidade ou das pessoas de uma determinada sociedade.
         Na verdade, poderíamos ficar aqui a escrever sobre um sem-número de argumentos, como eles são comumente usados e quando podem ser usados sem serem falaciosos. Mas, sinteticamente, podemos afirmar que um argumento é válido ou não pela sua veracidade, e não pelo nome que foi dado a ele.
         Assim também podemos dizer das ideias. Como dizia o finado Orlando Fedeli (que Deus o tenha em bom lugar), “as ideias não se separam em modernas ou retrógradas, mas em verdadeiras ou falsas”. Algumas pessoas tem tentado impugnar as ideias de acordo com a sua idade, não com a sua veracidade. E isso também é uma falácia.
         Agora, analisemos o discurso dos neoateus. Com uma mão, nos afagam e nos dão suas migalhas, dizendo sempre que creem firmemente na igualdade de todos os homens perante a lei, e com a outra mão nos apedrejam, afirmando categoricamente que uma bancada evangélica ou católica nos parlamentos impede a laicidade do Estado, ou que não são contra as religiões, desde que elas fiquem dentro dos templos. Com isso, na prática, perdemos o direito de representação (visto que somos a maioria) nas câmaras do poder legislativo, seja porque votamos em um candidato cristão, seja porque somos cristãos políticos e propomos leis de acordo com nossa visão do mundo aceita pelo estado, e perdemos, também, o direito à livre crença, tornando o Estado não laico, mas ateu, uma vez que nos templos ninguém é obrigado a ir, nem mesmo os religiosos, a não ser por uma obrigação devocional. Já nas escolas, onde se ensina ateísmo, as crianças são obrigadas por lei a ir. Mas mudemos o rumo das nossas abstrações, posto que em nível político não se resolve nada em matéria de religião e filosofia.
         Outro argumento comum dos neoateus é que eles não se importam com proselitismo. Então os ateus tem surgido de pés de alface? Evidentemente não. Na verdade, a mídia inteira, desde os programas mais infantis até as telenovelas com temas adultos sobre sexo, estão repletos de propaganda ateísta. No entanto, para facilitar o nosso estudo, falemos apenas sobre um canal da mídia: o youtube. Nele você pode confirmar a hipótese da propaganda ateísta a qualquer momento. Basta procurar que você poderá encontrar centenas de resultados de vídeos de ateus falando sobre o ateísmo e inferindo, sem nenhuma base, sempre, que o ateísmo é a visão mais lógica do mundo. Ora, se eles não praticam este tipo de “proselitismo nojento”, qual é o sentido de fazerem vídeos e se preocuparem em responder as centenas de milhares de comentários feitos em seus canais? E se eles “não estão afirmando nada”, qual é o sentido de seus vídeos? Evidentemente seus vídeos estão repletos de afirmações. Daí já se pode inferir a mendacidade destes grupos de seletos intelectuais. Este grupo, no entanto, não tem nem a integridade nem a inteligência necessárias para serem magarefes.
         O motivo para eu estar escrevendo sobre o tema foi um debate que ocorreu no dia nove de junho, e o nome do debate era “ateus contra cristãos”. Sem parcialidade, podemos afirmar que a vitória foi esmagadora dos cristãos, representados pelo vlogger Conde Loppeux de La Villanueva, Rodolfo Loreto, do site “Sentinela Católico” e Samuel Cardoso. O lado “delesateus” foi representado por Yuri Grecco, do canal “euateu”, Gulherme Tomishiyo, do canal “ciência no cotidiano” e Daniel Fraga.
         Este que vos escreve não é capaz de encontrar palavras para descrever a barbaridade contida na atitude dos neoateus. Desde o mais tenro princípio do debate, eles foram sempre incisivos nas críticas, evasivos nas respostas e - pasmem - mentirosos nas suas alegadas explicações!
         Não somos cá uns primores de cientistas, mas Guilherme Tomishyio, ao ser inquirido sobre haver ou não efeito sem causa, se algo poderia vir do nada, é aleivoso e afirma que o decaimento radioativo acontece sem causa. Não satisfazendo aos cristãos, que contrapuseram argumentos válidos a essa afirmação tendenciosa, ele afirma que o efeito casimir é decorrente do nada!
         Esta informação é evidentemente falsa, visto que nada é decorrente do nada, e o efeito casimir não é exceção à regra.
         Efeito casimir, grosso modo, em mecânica quântica, é o efeito causado pelas oscilações do vácuo em sistemas de baixa pressão. Só aí, temos um sem-número de especificações necessárias (causas) para que o efeito aconteça. Mas, não satisfeito, ele continua afirmando que o tal efeito é proveniente do nada! Isso evidentemente é um falseamento do conceito de nada. Ele conceitua aqui o nada como sendo o vácuo completo. Ora, não há o vácuo completo, e, mesmo se houvesse, o homem não é capaz de reproduzi-lo. E, mesmo que o sistema estivesse na mais completa vacuidade, ainda haveria tempo e espaço, portanto, algo. Em suma, não podemos aceitar que o efeito casimir seja decorrente do nada, nem mesmo se nossa concepção de nada for tão trôpega e grosseira como a vacuidade que Tomishyio propõe. Conceito este, aliás, que não é utilizado nem mesmo em ciência. Fica evidente, também, que o dito cientista apela à ignorância, tanto do público como do seu interlocutor, ao usar tal argumento. Uma vez que o decaimento radioativo é um fenômeno de conhecimento quase geral, ele usa seu conhecimento para pôr no tabuleiro uma teoria que só os físicos e matemáticos conhecem e que os contendores não poderiam contra-argumentar, uma vez que a filosofia é uma linguagem mais ou menos acessível a todos, enquanto que as ciências se valem do hermetismo para que seus conhecimentos não caiam na mão do vulgo, tal qual fizeram outras correntes heréticas, como o Platonismo, o Aristotelismo, o Rosacrucianismo e a Maçonaria. Yuri Grecco, neste debate, chega a dizer que a única visão do mundo realmente capaz de explicar o mundo é a ciência. Expliquemos o absurdo: suponhamos, apenas suponhamos, que Darwin esteja certo, e que nós somos apenas animais que evoluíram de um ancestral comum aos macacos. Podemos legalizar o aborto? Podemos legalizar a pedofilia? Podemos cometer adultério? Como podemos ver, a ciência é útil apenas para explicar alguns fenômenos de ordem natural. Mas podemos ver que nem mesmo no âmbito da ciência o método científico pode ser utilizado em todas as áreas. Podemos citar as ciências biológicas como exemplo de ciência que não usa o método científico. As ciências biológicas trabalham quase que exclusivamente com a catalogação de espécies e suas respectivas taxonomias, e, mesmo que aceitássemos a evolução como uma teoria válida, ela não poderia estar mais longe do método científico, pois não pode ser experimentada e provada verdadeira.
         Ao falar de ética, mais uma vez erroneamente, os ateus disseram que a moralidade surgiu da razão humana, para a coesão social e por motivos egoístas de sobrevivência. Podemos consultar Platão sobre isso. Em seu livro “A República”, há um personagem chamado Telêmaco que é um homem que, quando observado, age de acordo com a mais estrita moral. No entanto, acha proveitoso agir de maneira imoral quando os seus compatriotas não podem vê-lo. Ora, se Platão escreveu sobre isto e a isto dedicou um capítulo inteiro de seu livro, devia ser um pensamento comum nos gregos de sua época. Mas podemos ir além: Platão nos ensina que a moral surgiu por dois motivos: para defender os fracos, algo que, obviamente, não traria nenhuma vantagem evolutiva, e para honrar aos deuses, escusado o erro frente à falta da Revelação Divina na figura de Jesus Cristo. Ora, se a moral tivesse, de fato, originado-se exclusivamente da razão humana, qual era o papel dos deuses neste código insólito? Aliás, ficou muitíssimo evidente que nenhum ateu neste debate sabia sequer o que é a moral. Para eles, a moral se resume em “o que é bom para o ser humano”. Mas, na verdade, a moral mais se aproxima do oposto disso. A moral envolve sempre sacrifícios de parte de um em detrimento de outro. A moral, como bem nos explica Platão na figura de Telêmaco, é sempre desvantajosa. Os conceitos destes senhores sobre moral são risíveis. Em seus vídeos sobre moral eles dizem, entre outras coisas, que determinados códigos morais, como o dos judeus no Antigo Testamento, por exemplo, são hoje imorais. Nós convidamos os senhores a nos explicar onde foi que Jesus nos disse que era errado cortar a mão de um ladrão. Cortar a mão de um ladrão não é errado, posto que Deus não possa nos ensinar coisas erradas ou nos dar códigos morais errados. No entanto, com a Revelação, ele nos mostra que, embora cortar a mão de um ladrão seja certo, é melhor que se aja com misericórdia. É melhor que se perdoe. Afinal de contas, não queremos nós, culpados, que Nosso Senhor nos perdoe? Como poderia Ele estar inclinado a perdoar o homem, que Lhe é inferior, se o homem não perdoa o que lhe é igual? Aliás, usarei aqui um argumentum ad hominem, imagino eu que bem colocado. O senhor Yuri Grecco afirma categoricamente em um de seus vídeos que odeia as religiões, e continua dizendo “umas mais do que outras”. É evidente que ele se refere aqui ao cristianismo, e, mais especificamente, à Santa Madre Igreja. Quem lucraria com a sua desmoralização, a sociedade ou o senhor Yuri Grecco, inimigo aberto de tudo aquilo que os homens fazem para serem bons? Já o senhor Guilherme Tomishyio é homossexual militante, e as normas de conduta vigentes nas sociedades cristãs, embora respeitem sua condição (não opção), relegam o homossexualismo a condição de imoralidade. Quem ganharia com um estado ateu, a sociedade ou o senhor Tomishiyo? Ora, vendo que a sociedade não ganhará nada com a revisão de seu código moral, apenas estes distintos senhores, a que conclusão podemos chegar? Que eles realmente acreditam que isto é o melhor para o mundo? Evidentemente não. Eles não estão militando o ateísmo “por um mundo melhor” (se é que isso é possível), estão fazendo isso apenas porque é interessante para suas finalidades egoístas, que são: acabar com a família, a religião e o Estado.
                  Ficou, a meu ver, muitíssimo evidente quem saiu vitorioso deste embate, muito embora este que vos escreve não concorde com algumas estratégias que os cristãos tomaram durante o debate. Nós calculamos que havia caminhos mais curtos para uma vitória muito mais completa, mas deixamos isso por conta dos próximos debates. Na contenda, ficou óbvio que o senhor Yuri Grecco não é capaz de tecer argumentos, uma vez que ele somente decorou o nome de uma meia dúzia de nomes latinos e apenas os repetiu arbitrariamente, mesmo que em nada se parecessem com um falseamento. Quanto ao senhor Tomishyo, que parece ser mais racional e sensato, mera ilusão! Em seus vídeos ele afirma categoricamente que pessoas religiosas são pobres e sem instrução, além de confessar que pensa que todos os que creem em Deus são sempre “burros ou hipócritas”. Foi dito durante o debate: “parece que os ateus pensam que tudo roda de acordo com o umbigo deles”. O comentário foi bem colocado, mas incompleto: os ateus se valeram de utilitarismo durante todo o debate, distorcendo os conceitos nos quais mesmo eles acreditam para parecerem conceitos ainda mais ateus, mudando algumas sutilezas em seus discursos quando lhes era conveniente, e assim por diante. Ficou mais que evidente a desonestidade dos senhores Daniel Fraga, Guilherme Tomishyio e Yuri Grecco durante este debate. Desonestidade esta que não fica só em nível intelectual. Os senhores supracitados são enganadores, perversos e malignos. O seu objetivo é sim fazer prosélitos para o seu funesto culto de Osíris, onde a morte é o melhor prêmio para quem mais pecar de acordo com sua própria vontade.
         Encerrando estas considerações sobre a discussão, dizemos apenas que o mundo está entrando agora em uma nova era, e, assim como na guerra foram desenvolvidas novas armas, mais covardes e destruidoras, assim também ocorreu no campo do debate ideológico. Cá, nós também temos de lidar com as novas armas destes grupos militantes, sejam lá do que forem. Entramos em uma era onde se afirma sem nada dizer, apenas para evitar os ônus provindos de uma afirmação, se afirma diferente daquilo que se quer afirmar, onde indivíduos de fala fácil e compreensão difícil são a regra entre os formadores de opinião, e, com a sobreposição de ideias, manipulam as opiniões das massas ignavas na direção que melhor lhes convier. Esta direção é, infelizmente, um mundo sem esperança, sem cores, onde tudo o que se pode esperar é a extinção.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Sobre o Debate entre Cristãos e Ateus

O que Yuri Grecco Pensa do mundo:
Sobre incesto e outras "liberdades individuais" que de individuais não tem nada, por afetarem toda a sociedade:

Sobre paternidade, miraculosamente contradizendo o que ele mesmo diz sobre liberdades individuais:

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Verdade, o Bem e a Beleza


         Esta semana reflitamos sobre a natureza das coisas, em sua magnificência, pois, como nos diz São Lucas, “quibus ipse ait dico vobis quia si hii tacuerint lapides clamabunt”. A natureza nos brada, de fato, a existência de Deus, da Verdade, do Bem e da Beleza. Ainda que os julgamentos pareçam arbitrários, sempre devemos lembrar que é pela razão que Deus nos revela Sua vontade. Portanto, é salutar pensar sobre Deus e Seus atributos: “Sed in lege Domine voluntas ejus et in lege ejus meditabitur die ac nocte”.
         Queremos, com isso, dizer que as pessoas que são guiadas pela fé, isto é, pessoas que não tem instrução são inferiores a nós? Decerto que não. Na verdade, elas estão mais perto que nós, que buscamos tantas racionalizações, do Reino dos Céus: “amen dico vobis quicumque non acceperit Regnum Dei sicut puer non entrabit in illud”. E, não é este mesmo nosso objetivo? Salvar nossas almas, e ajudar a salvar as almas de nossos irmãos?
         Uma vez feita a introdução, passemos para as nossas reflexões. É comum hoje em dia, se dizer que a verdade não existe e que “bem” e “beleza” são conceitos relativos, valores subjetivos. Mas seria isso verdadeiro? Ora, a própria frase “a verdade não existe” é, por si só, uma frase autodestrutiva. Suponhamos, apenas suponhamos, que a pessoa que disse isso tivesse razão. Neste caso, a verdade não existiria, o que, por si só, constituiria o corpo de uma verdade. Logo, haveria uma verdade, a verdade de que não há verdade. Havendo, portanto, verdade, a pessoa que disse não haver verdade estaria errada. Caso haja verdade, a pessoa que disse não haver verdade simplesmente estaria errada. Ponhamos à prova as hipóteses. Digamos que hoje esteja nublado no Rio de Janeiro, mais especificamente, na Penha, e que ontem, na mesma região, tenha chovido cântaros (o que, de fato, ocorreu). Se a verdade existe, e a afirmação acima estiver livre de falseamentos, então ela é verdadeira. Se a verdade não existe, no entanto, pode não ter chovido nesta região especificada na data especificada. Ora, é absurdo você imaginar que nunca mais vai poder dizer que choveu, fez sol, que você está a fazer qualquer coisa, tendo isso de fato ocorrido ou estando em curso, sem que seja considerado inverossímil. Já imaginaram, caros leitores, não poder fazer qualquer afirmação sem que esta seja, necessariamente, falsa, por não haver verdade? Ora, nem todas as afirmações são falsas, logo há verdade. Mas isso tem implicações filosóficas muito maiores do que aparentam à primeira vista. Isto porque nossos costumes e estilo de vida relativizam a verdade. Se a verdade fosse relativa, e demonstramos acima que não é, os conceitos de “bem” e de “beleza” também seriam.
         Há, no entanto, uma relação entre a verdade e o bem. A verdade é boa, a mentira é má. Logo, o que é iluminado pela verdade é o bem, o que não é, é o mau. O mau tem, desde o princípio, ligação com a mentira. Podemos comprovar isso desde o gênesis. Satanás disse a Eva: “nequaqam morte moriemini”, isto é, “positivamente não morrereis”. A própria inveja do anjo mau é inverossímil: mesmo que ele receba a adoração de todos os seres, ele jamais se tornará Deus.
         Sendo a verdade uma medida objetiva, ela existe, e é perceptível e imutável, o bem, sendo decorrente da verdade, também precisa ser objetivo, perceptível e imutável. Ora, sendo assim, o bem nada tem de subjetivo como pretendem os algozes das almas no mundo moderno. Isso significa que, por mais que eu odeie o bem e não me sinta bem com ele, ele não mudará pelo meu julgamento subjetivo. Se eu não me sinto bem orando, eu, por minha livre e espontânea vontade, estou me separando do bem.
         A beleza é decorrente da harmonia da verdade e do bem. A verdade é bela, o bem é belo. O que está em consonância com a verdade e com o bem é belo, o que é dissonante é feio. Desta forma, a beleza, sendo decorrente de dois valores objetivos, perceptíveis e imutáveis, é, também, imutável. Portanto, esses padrões de beleza “novos” que os meios de comunicação tentam nos impingir dia e noite devem ser, quase sempre, rejeitados. Digo isto especialmente em relação às artes. A arte moderna tenta relativizar a beleza. A música moderna tenta relativizar a harmonia. Relativizando em nossas mentes a beleza, é fácil relativizar o bem. Relativizando o bem, é fácil relativizar a verdade. Tenhamos sempre em mente que os bons atributos que vem de Deus, como a sabedoria, a paciência, a inteligência, a longanimidade, são sempre árduos, isto é, não nos dão descanso. “Sine intermissione orate”, nos adverte São Paulo. Mas, aos maus atributos que vem do nosso inimigo, basta que nos rendamos. Sigamos a advertência de São Paulo, oremos sem cessar, pois só assim poderemos cultivar a verdade, o bem e a beleza em nossas almas.
         Ora pro nobis sancta Dei Genitrix,
         Ut digni efficamur promissionibus Christe.


                                                        H.P. Cunha

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Santo Tomás de Aquino contra Feuerbach e Todo o Pensamento Materialista


                Certa vez, conversando com meu cunhado, cujo qual é psicólogo, tentei invocar as provas da existência de Deus. Ele, evidentemente, as rejeitou de pronto. Afinal, como psicólogo ele é uma autoridade quando o assunto é religião, especialmente por não ter lido nenhum dos grandes livros da religião ocidental, como “A Ilíada”, “A Odisséia” ou as Sagradas Escrituras. E o motivo para tanto é óbvio: evidências não tem o mesmo peso que provas, e o que eu disse foram só palavras carregadas de conjeturas e inferências. Todavia, será que é bem assim?
                Consideremos a matemática, que é uma ciência do campo da lógica, e é universalmente aceita, não como indicativa, mas como probática. Suponhamos que eu escreva que um mais um é iguala dois. Este axioma está correto? Sim, sempre. Agora consideremos as semelhanças entre a matemática e o encadeamento lógico: se eu pego uma batata e ponho ao lado de outra, tenho duas batatas, se a ponho ao lado do forno, tenho dois objetos quaisquer. No entanto, se apenas digo: “Um mais um são dois”, não tenho nada além de uma abstração humana, por mais objetivamente útil e óbvia que ela possa parecer. Da mesma forma, quando digo que a soma dos quadrados dos catetos é igual à hipotenusa, tenho uma abstração construída sobre uma abstração. No entanto, esta abstração está correta, pois o uso diário de engenheiros e arquitetos comprova a mesma. Porém, a axiomática contida na resolução do problema é especulativa, pois não se trata de medidas exatas, e sim de números com precisão relativa e que são, em si só, símbolos da realidade.
                A ciência, no entanto, usa uma parte do pensamento lógico para tentar comprovar que o mundo natural é produto do próprio mundo natural. Mas será isso possível? A lógica nos diz que não, e darei apenas um de muitos exemplos das provas da existência de Deus, um simples de se compreender. Se o mundo existe, supõe-se que ele seja o fruto de um encadeamento de causas e efeitos. Ora, ou essa cadeia de eventos é finita ou é infinita. Ela não pode ser infinita, porque haveria uma causa antes da causa primeira que seria a causa primeira, e haveria outra causa antes dela, e outra antes dessa, numa sucessão infinita de causas e efeitos, e, por isso, não havendo causa primeira, não haveria causa segunda, nem causa terceira, e seus respectivos efeitos, e, desse modo, não haveria nada. Percebemos que há coisas, portanto, a sucessão de causalidade é finita. Logo, há causa primeira. Mas será essa causa necessariamente inteligente? Sim. Vemos no mundo que toda a ordem pressupõe um ordenador, e quanto maior a ordem maior é a inteligência do ordenador. Ora, vemos que há perfeita ordem na criação. O planeta Terra está exatamente onde tem de estar para haver vida, de forma que a Terra nem é muito quente nem muito fria, possibilitando que haja água em estado líquido, componente essencial para a vida como a conhecemos. Além disso, o nosso planeta tem um centro composto de ferro fundido, que, funcionando como um dínamo, cria um campo eletromagnético essencial para haver vida pluricelular. Não parece providencial? Não haveria nisso “kosmos”? E cito apenas uns poucos exemplos que me vem à mente. Ora, uma ordem perfeita supõe uma causa primeira com inteligência perfeita. Logo, Deus, que é a inteligência perfeita (embora incogniscível), existe, e é por isso que todas as teorias da ciência estão cheias de pensamentos “ad hoc”, criados exclusivamente para sanar as deficiências de sua trôpega explicação multimétrica do mundo.
                Ambos os raciocínios, o matemático e o lógico discursivo, foram desenvolvidos pelos mesmos parâmetros. São inferências lógicas da realidade, embasados na experiência subjetiva do homem, mas que, objetivamente, tendem a se demonstrar reais pela experimentação. Deveríamos tomar as provas da existência de Deus como falaciosas? Ora, a matemática é que está inserida na lógica, e não o contrário. Se não aceitamos o encadeamento lógico das coisas para provar a existência de Deus, porque deveríamos aceitá-lo de uma forma menor para “comprovar” a sua inexistência?


                                                                                 H.P.Cunha

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sobre a Doutrina Cartesiana


       
             
                Eis um pequeno esboço que fiz, certa vez, sobre o cartesianismo, e que planejava publicar com o nome de “A Defesa”. Embora esteja incompleto, talvez valha a pena ler e tirar suas próprias conclusões.
                "É evidente que, hoje em dia, estabeleceu-se um novo clero. Em cada rua, cada esquina, podemos ver homens e mulheres dispostos a se proclamarem sacerdotes, de uma forma ou de outra. Seja através das inúmeras vertentes gnósticas do Cristianismo, conhecidas hoje em dia como protestantismo, seja através do pretenso neo-paganismo, que embora remonte aos anos 50, se diz continuador direto de tradições ancestrais, seja através da também pretensa ciência, esta quimera tão efêmera que tem as respostas para todas as perguntas erradas. Com tantas vertentes de fé que nos golpeiam atualmente, a pergunta intrínseca fica ainda mais pungente: onde estará a verdade?
                A pergunta tornou-se ainda mais pertinente que nunca, tendo vista a enorme quantidade de verdades que se contradizem. É evidente que quando duas verdades se contradizem, ou uma estará certa, ou a outra. Portanto, seria possível inferir que apenas uma estará certa, visto que todas se contradizem. Mas qual?
                Desculpe-me, amigo leitor, por parecer supersticioso, mas o inferno existe, e toda a doutrina católica está correta. Sei que parece absurdo, não vos ensinaram isso nas suas escolas, mas a ciência não é ateísta. Ela é teísta sim. Vejamos quem são os seus deuses.
                Comecemos, no entanto, definindo conceitos básicos. Ora, nada é mais sabido que, neste século, é dito: é impossível demonstrar a existência de Deus. Dizem também: “a verdade não existe”. Vejamos: Se a verdade não existe, ou o afirmador está correto, e a verdade não existe mesmo, o que constitui uma verdade, portanto a verdade existe e o afirmador está enganado, ou a verdade existe e o afirmador está enganado. Em ambas as alternativas, aqueles que vivem a repetir idioticamente doutrinas irracionais são, desculpem-me a franqueza, imbecis iletrados que não entendem a própria loucura das palavras que saem de suas bocas.
                Renée Descartes, o pai do cartesianismo (nome dado para a lógica moderna, usada largamente em ciência, em honra a ele), nos disse: “cogito ergo sum”, isto é, penso, logo existo. Daí, podemos tirar três conclusões: ou ele quer dizer que tudo, para existir, tem de pensar, portanto, a terra, os minerais, as bactérias, os protozoários, as algas, os fungos, as plantas e os animas não existem, posto que eles não pensam. No entanto, eles existem, portanto a intenção dele certamente não foi essa.
                Outra possibilidade consiste em dizer que todos os seres, minerais, vegetais, monera, funghi, animais e humanos tem almas e pensam.  Isto provém de uma demasiada relativização do pensamento humano, começado em movimentos gnósticos, e depois largamente aceita, em especial, no meio científico acadêmico. Essa afirmação nada mais é que uma delas. Assim, eles nos comparam aos “irmãos” animais, e nos dizem que tudo o quanto é moralmente aceito para eles, deve se-lo para nós. O que também é evidentemente falso, posto que os animais não obstante são praticantes de pedofilia, incesto e até, algumas vezes, necrofilia. Isso também deve ser moralmente aceito, já que somos animais exatamente como os bonobos? Naturalmente que não. No entanto, estas não são as principais implicações filosóficas do método cartesiano.
                As duas afirmações anteriores estão, segundo o método cartesiano, corretas, mas ainda incompletas. Elas se completam e se explicam totalmente na terceira e última afirmativa: nunca será possível ninguém apreender a realidade objetiva através do pensamento.
                Digamos, por exemplo que eu penso, logo existo. Portanto, nada do que eu percebo é objetivo, e sim fruto de uma subjetividade minha. Logo, eu nunca irei conhecer a realidade. Como eu jamais irei conhecê-la, e nem mesmo sei o que é ou se é real, eu posso dizer que ela não é definível. No entanto, eu interajo com o mundo, que, evidentemente, existe e é definido. A pergunta é: de onde veio este mundo?
                Naturalmente, a única alternativa é a resposta: da minha subjetividade. Logo, tudo o que é extrínseco a mim não existe. Portanto, o mundo é o que eu quero que ele seja, e o que eu penso que ele seja e o que eu crio nele. Portanto, eu sou Deus. Sim, aquele mesmo, que criou todas as coisas. Mas será que o sou? Qual a base para isso? De quem será essa idéia?
                “No dia em que comeres desta árvore, positivamente sereis iguais a Deus”.
                Digamos, por exemplo, que o leitor está a olhar para uma caneta. Ora, a caneta é real, e ela tem um correspondeste em sua mente que faz com que você entenda o objeto caneta. Mas qual é o fator determinante para esta relação entre o real e o mental? Evidentemente, é o objeto extrínseco, posto que é minha mente que apreende o real, e não meus pensamentos que se projetam no mundo.
                Pode perceber, caro leitor, a inversão necessária para a justificação destas idéias? Coloca-se o real como falso, o objetivo como subjetivo, o mundo como imaginário e o imaginário como o mundo! Não é nem mesmo necessário demonstrar que, por mais que um leproso se imagine curado de sua doença, ele não se curará sem intervenção, seja ela médica ou divina. Eles querem fazer você acreditar que o que você pensa se torna realidade! Quem pensa e cria a realidade é Deus!
                Saibamos, portanto, diferenciar o real do imaginário, e tenhamos muito cuidado com filosofias vãs que tem por fito apenas nos enganar".


                                                                              H.P. Cunha