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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Um Dia Feliz


“Eis a prova de que o Brasil não é mais um país cristão”. Esta frase seria o suficiente para acabar com o dia de qualquer um, mais ainda se fosse ouvida logo pela manhã, por alguém atrasado para o trabalho. A pérola em questão não poderia ter vindo de outra ostra: um neoateu.
Explico: a conclusão magnífica a qual chegou nosso molusco (nenhuma referência política) foi baseada nos dados estatísticos perfeitos, os quais ele dispunha de todos, da preferência entre a folga no Natal ou Ano Novo em uma central de atendimento no Rio de Janeiro. Na escala referida, a maioria franca dos operadores preferiria folgar no Ano Novo (embora nós, que tivemos em mãos a mesma escala, não a possamos analisar com a mesma perspicácia e rapidez de nosso “amigo”). Mas, evidentemente, esta é uma conclusão precipitada, mesmo para uma divagação apriorística.
Em primeiro lugar, sabemos muito bem que uma central de tele atendimento não é exatamente o que se pode chamar de “grupo de controle”. Primeiro porque é um dado que, salvo excepcionais exceções, todos trabalham nos dois feriados. Depois, porque as raras almas que terão qualquer folga são apenas os vencedores das campanhas internas de motivação. Em terceiro lugar, a maioria dos homens que trabalham numa central de atendimento são homossexuais, e a maioria das mulheres, de pouca moral. Os que restam são, quase que invariavelmente, modernistas e relativistas (quando não gnósticos, agnósticos ou ateus, os “esclarecidos” de nossa época). Junta-se a isso o fato de os homens todos de nossa época serem incontinentes. Dê-se a eles as alternativas: uma noite quase inteira na igreja ou duas noites de bebedeira, esbórnia e sexo. Qual das duas o leitor acha que um teleoperador médio escolherá?
Mas não são somente estes os motivos que tornam esta pérola digna de uma nota, ainda que no rodapé das citações mais esdrúxulas de todos os tempos. O que torna a citação digna da memória do fracasso é justamente o fato de ela ser tão apriorística que desconsidera fatores decisivos.
Nos últimos anos, vem sendo realizado um esforço tremendo por parte de uma determinada elite do mundo, todos eles ateus (ou assim se declaram para suas finalidades espúrias), todos eles revolucionários, todos eles libertários, para tornar o Natal, bem como a Páscoa, em feriados meramente comerciais.  Isto, ao menos nos grandes centros urbanos, é facilmente perceptível, uma vez que todas as referências a Jesus foram trocadas por Papai Noel. As crianças desta geração, salvo as de famílias mais conservadoras, nem ao menos sabem que o Natal é o Advento do Salvador da Humanidade. Muitas crianças de nossa época imaginam se tratar o Natal da época do ano em que Papai Noel distribui benesses para aqueles que se comportaram bem durante o ano. Nada mais. E isto é muito facilmente perceptível, uma vez que a mídia faz um tremendo estardalhaço com o Natal, fazendo comerciais com Papai Noel, filmes com Papai Noel, e os filmes tradicionalmente associados ao Natal (lembro-me de um filme que tratava de Artaban e sua odisseia para ver Jesus, e, no fim, o via apenas de passagem na Via Crucis) ficam relegados à classificação de “filmes b”, que ninguém assiste, ninguém liga. E este esforço está culminando no esvaziamento do simbolismo dos feriados religiosos (“se não pode derrota-los, substitua-los”).
De posse destes dados, pode-se afirmar: “eis aí a prova de que o Brasil não é mais um país cristão”? Ou seria este apenas um chavão da fraseologia neoateísta, repetida “ad nauseam” por gênios de renome, como Pirulla e Yuri Grecco?



                                                                     H.P.Cunha.

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