“Eis a prova
de que o Brasil não é mais um país cristão”. Esta frase seria o suficiente para
acabar com o dia de qualquer um, mais ainda se fosse ouvida logo pela manhã,
por alguém atrasado para o trabalho. A pérola em questão não poderia ter vindo
de outra ostra: um neoateu.
Explico: a
conclusão magnífica a qual chegou nosso molusco (nenhuma referência política)
foi baseada nos dados estatísticos perfeitos, os quais ele dispunha de todos,
da preferência entre a folga no Natal ou Ano Novo em uma central de atendimento
no Rio de Janeiro. Na escala referida, a maioria franca dos operadores
preferiria folgar no Ano Novo (embora nós, que tivemos em mãos a mesma escala,
não a possamos analisar com a mesma perspicácia e rapidez de nosso “amigo”).
Mas, evidentemente, esta é uma conclusão precipitada, mesmo para uma divagação
apriorística.
Em primeiro
lugar, sabemos muito bem que uma central de tele atendimento não é exatamente o
que se pode chamar de “grupo de controle”. Primeiro porque é um dado que, salvo
excepcionais exceções, todos trabalham nos dois feriados. Depois, porque as
raras almas que terão qualquer folga são apenas os vencedores das campanhas
internas de motivação. Em terceiro lugar, a maioria dos homens que trabalham
numa central de atendimento são homossexuais, e a maioria das mulheres, de
pouca moral. Os que restam são, quase que invariavelmente, modernistas e
relativistas (quando não gnósticos, agnósticos ou ateus, os “esclarecidos” de
nossa época). Junta-se a isso o fato de os homens todos de nossa época serem
incontinentes. Dê-se a eles as alternativas: uma noite quase inteira na igreja
ou duas noites de bebedeira, esbórnia e sexo. Qual das duas o leitor acha que
um teleoperador médio escolherá?
Mas não são
somente estes os motivos que tornam esta pérola digna de uma nota, ainda que no
rodapé das citações mais esdrúxulas de todos os tempos. O que torna a citação
digna da memória do fracasso é justamente o fato de ela ser tão apriorística
que desconsidera fatores decisivos.
Nos últimos
anos, vem sendo realizado um esforço tremendo por parte de uma determinada
elite do mundo, todos eles ateus (ou assim se declaram para suas finalidades
espúrias), todos eles revolucionários, todos eles libertários, para tornar o
Natal, bem como a Páscoa, em feriados meramente comerciais. Isto, ao menos nos grandes centros urbanos, é
facilmente perceptível, uma vez que todas as referências a Jesus foram trocadas
por Papai Noel. As crianças desta geração, salvo as de famílias mais conservadoras,
nem ao menos sabem que o Natal é o Advento do Salvador da Humanidade. Muitas
crianças de nossa época imaginam se tratar o Natal da época do ano em que Papai
Noel distribui benesses para aqueles que se comportaram bem durante o ano. Nada
mais. E isto é muito facilmente perceptível, uma vez que a mídia faz um
tremendo estardalhaço com o Natal, fazendo comerciais com Papai Noel, filmes
com Papai Noel, e os filmes tradicionalmente associados ao Natal (lembro-me de
um filme que tratava de Artaban e sua odisseia para ver Jesus, e, no fim, o via
apenas de passagem na Via Crucis) ficam relegados à classificação de “filmes
b”, que ninguém assiste, ninguém liga. E este esforço está culminando no
esvaziamento do simbolismo dos feriados religiosos (“se não pode derrota-los,
substitua-los”).
De posse
destes dados, pode-se afirmar: “eis aí a prova de que o Brasil não é mais um
país cristão”? Ou seria este apenas um chavão da fraseologia neoateísta,
repetida “ad nauseam” por gênios de renome, como Pirulla e Yuri Grecco?
H.P.Cunha.
H.P.Cunha.
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