Atordoa-me
a falta de escrúpulos do mundo moderno. Onde antes havia beleza, hoje só há
feiura. Onde antes só havia tristeza, hoje encontramos facilmente alegria. Onde
antes havia escrúpulos, hoje há oportunidades comerciais.
É
sobre uma dessas oportunidades que hei de escrever essa semana. Não devia, mas
ainda fico perplexo ao ter notícia de determinadas coisas. Ainda mais quando a
vilania é agradecida pelos pobres diabos que, sem terem a quem recorrer (em
especial no caso da moral e da ética), são todos os dias explorados como se
fossem escravos. Já vos explico do que se trata:
Uma
determinada rede de hipermercados, o Wal-Mart, dá a seus funcionários um
determinado vale em forma de cartão que pode corresponder a até quarenta por
cento do salário do empregado e que só pode ser usado dentro da rede Wal-Mart.
É bem verdade, também, que só é descontado do salário aquilo que o empregado
gastar durante o mês.
Esta
denúncia é importantíssima, pois muitos de seus funcionários ainda gostam de ter
esse cartão-alimentação. Ou seja: essa rede paga aos seus funcionários, mas os
incentiva a consumir até quase a metade dos seus salários na mesma rede. Desta
forma, o empregado ganharia apenas a metade dos seus ganhos (se consumir o
valor total do vale) e ainda dará lucro à empresa. Desnecessário dizer que,
dentro de um sistema extremamente relativizado, essa prática passa incólume e é
até, muitas vezes, agradecida pelos prejudicados. Mas, em termos absolutos,
isso é escravidão, isto é, a liderança da empresa quer pagar em comida aos
trabalhadores brasileiros.
O
que esses distintos senhores querem é ter lucro sobre seus principais aliados,
sobre aqueles pobres coitados que tem de fazer o que fazem todos os dias, sem
sábados, domingos ou dias santos, que trabalham quarenta e nove horas e vinte
minutos por semana, além das horas extras obrigatórias. Eles querem ter
absolutamente todos os lucros. Esse é o capitalismo selvagem levado até os
extremos. E dizem ainda que a escravidão acabou... Por que não os deixamos
pagarem os trabalhadores em continhas brilhantes?
H.P.Cunha
H.P.Cunha
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