Certa
vez, conversando com meu cunhado, cujo qual é psicólogo, tentei invocar as
provas da existência de Deus. Ele, evidentemente, as rejeitou de pronto. Afinal, como psicólogo ele é uma autoridade quando o assunto é religião,
especialmente por não ter lido nenhum dos grandes livros da religião ocidental,
como “A Ilíada”, “A Odisséia” ou as Sagradas Escrituras. E o motivo para tanto
é óbvio: evidências não tem o mesmo peso que provas, e o que eu disse foram só
palavras carregadas de conjeturas e inferências. Todavia, será que é bem assim?
Consideremos
a matemática, que é uma ciência do campo da lógica, e é universalmente aceita,
não como indicativa, mas como probática. Suponhamos que eu escreva que um mais
um é iguala dois. Este axioma está correto? Sim, sempre. Agora consideremos as
semelhanças entre a matemática e o encadeamento lógico: se eu pego uma batata e
ponho ao lado de outra, tenho duas batatas, se a ponho ao lado do forno, tenho
dois objetos quaisquer. No entanto, se apenas digo: “Um mais um são dois”, não
tenho nada além de uma abstração humana, por mais objetivamente útil e óbvia
que ela possa parecer. Da mesma forma, quando digo que a soma dos quadrados dos
catetos é igual à hipotenusa, tenho uma abstração construída sobre uma
abstração. No entanto, esta abstração está correta, pois o uso diário de
engenheiros e arquitetos comprova a mesma. Porém, a axiomática contida na
resolução do problema é especulativa, pois não se trata de medidas exatas, e
sim de números com precisão relativa e que são, em si só, símbolos da
realidade.
A
ciência, no entanto, usa uma parte do pensamento lógico para tentar comprovar
que o mundo natural é produto do próprio mundo natural. Mas será isso possível?
A lógica nos diz que não, e darei apenas um de muitos exemplos das provas da
existência de Deus, um simples de se compreender. Se o mundo existe, supõe-se
que ele seja o fruto de um encadeamento de causas e efeitos. Ora, ou essa
cadeia de eventos é finita ou é infinita. Ela não pode ser infinita, porque
haveria uma causa antes da causa primeira que seria a causa primeira, e haveria
outra causa antes dela, e outra antes dessa, numa sucessão infinita de causas e
efeitos, e, por isso, não havendo causa primeira, não haveria causa segunda,
nem causa terceira, e seus respectivos efeitos, e, desse modo, não haveria
nada. Percebemos que há coisas, portanto, a sucessão de causalidade é finita.
Logo, há causa primeira. Mas será essa causa necessariamente inteligente? Sim.
Vemos no mundo que toda a ordem pressupõe um ordenador, e quanto maior a ordem
maior é a inteligência do ordenador. Ora, vemos que há perfeita ordem na
criação. O planeta Terra está exatamente onde tem de estar para haver vida, de
forma que a Terra nem é muito quente nem muito fria, possibilitando que haja
água em estado líquido, componente essencial para a vida como a conhecemos.
Além disso, o nosso planeta tem um centro composto de ferro fundido, que,
funcionando como um dínamo, cria um campo eletromagnético essencial para haver
vida pluricelular. Não parece providencial? Não haveria nisso “kosmos”? E cito apenas uns poucos
exemplos que me vem à mente. Ora, uma ordem perfeita supõe uma causa primeira
com inteligência perfeita. Logo, Deus, que é a inteligência perfeita (embora
incogniscível), existe, e é por isso que todas as teorias da ciência estão cheias
de pensamentos “ad hoc”, criados
exclusivamente para sanar as deficiências de sua trôpega explicação
multimétrica do mundo.
Ambos
os raciocínios, o matemático e o lógico discursivo, foram desenvolvidos pelos
mesmos parâmetros. São inferências lógicas da realidade, embasados na
experiência subjetiva do homem, mas que, objetivamente, tendem a se demonstrar
reais pela experimentação. Deveríamos tomar as provas da existência de Deus
como falaciosas? Ora, a matemática é que está inserida na lógica, e não o
contrário. Se não aceitamos o encadeamento lógico das coisas para provar a
existência de Deus, porque deveríamos aceitá-lo de uma forma menor para
“comprovar” a sua inexistência?
H.P.Cunha
H.P.Cunha
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