Esta semana reflitamos sobre a natureza
das coisas, em sua magnificência, pois, como nos diz São Lucas, “quibus ipse
ait dico vobis quia si hii tacuerint lapides clamabunt”. A natureza nos brada,
de fato, a existência de Deus, da Verdade, do Bem e da Beleza. Ainda que os
julgamentos pareçam arbitrários, sempre devemos lembrar que é pela razão que
Deus nos revela Sua vontade. Portanto, é salutar pensar sobre Deus e Seus
atributos: “Sed in lege Domine voluntas ejus et in lege ejus meditabitur die ac
nocte”.
Queremos, com isso, dizer que as
pessoas que são guiadas pela fé, isto é, pessoas que não tem instrução são
inferiores a nós? Decerto que não. Na verdade, elas estão mais perto que nós,
que buscamos tantas racionalizações, do Reino dos Céus: “amen dico vobis
quicumque non acceperit Regnum Dei sicut puer non entrabit in illud”. E, não é
este mesmo nosso objetivo? Salvar nossas almas, e ajudar a salvar as almas de
nossos irmãos?
Uma vez feita a introdução, passemos
para as nossas reflexões. É comum hoje em dia, se dizer que a verdade não
existe e que “bem” e “beleza” são conceitos relativos, valores subjetivos. Mas
seria isso verdadeiro? Ora, a própria frase “a verdade não existe” é, por si
só, uma frase autodestrutiva. Suponhamos, apenas suponhamos, que a pessoa que
disse isso tivesse razão. Neste caso, a verdade não existiria, o que, por si
só, constituiria o corpo de uma verdade. Logo, haveria uma verdade, a verdade
de que não há verdade. Havendo, portanto, verdade, a pessoa que disse não haver
verdade estaria errada. Caso haja verdade, a pessoa que disse não haver verdade
simplesmente estaria errada. Ponhamos à prova as hipóteses. Digamos que hoje
esteja nublado no Rio de Janeiro, mais especificamente, na Penha, e que ontem,
na mesma região, tenha chovido cântaros (o que, de fato, ocorreu). Se a verdade
existe, e a afirmação acima estiver livre de falseamentos, então ela é
verdadeira. Se a verdade não existe, no entanto, pode não ter chovido nesta
região especificada na data especificada. Ora, é absurdo você imaginar que
nunca mais vai poder dizer que choveu, fez sol, que você está a fazer qualquer
coisa, tendo isso de fato ocorrido ou estando em curso, sem que seja
considerado inverossímil. Já imaginaram, caros leitores, não poder fazer
qualquer afirmação sem que esta seja, necessariamente, falsa, por não haver
verdade? Ora, nem todas as afirmações são falsas, logo há verdade. Mas isso tem
implicações filosóficas muito maiores do que aparentam à primeira vista. Isto
porque nossos costumes e estilo de vida relativizam a verdade. Se a verdade
fosse relativa, e demonstramos acima que não é, os conceitos de “bem” e de “beleza”
também seriam.
Há, no entanto, uma relação entre a
verdade e o bem. A verdade é boa, a mentira é má. Logo, o que é iluminado pela
verdade é o bem, o que não é, é o mau. O mau tem, desde o princípio, ligação
com a mentira. Podemos comprovar isso desde o gênesis. Satanás disse a Eva: “nequaqam
morte moriemini”, isto é, “positivamente não morrereis”. A própria inveja do
anjo mau é inverossímil: mesmo que ele receba a adoração de todos os seres, ele
jamais se tornará Deus.
Sendo a verdade uma medida objetiva,
ela existe, e é perceptível e imutável, o bem, sendo decorrente da verdade,
também precisa ser objetivo, perceptível e imutável. Ora, sendo assim, o bem
nada tem de subjetivo como pretendem os algozes das almas no mundo moderno.
Isso significa que, por mais que eu odeie o bem e não me sinta bem com ele, ele
não mudará pelo meu julgamento subjetivo. Se eu não me sinto bem orando, eu,
por minha livre e espontânea vontade, estou me separando do bem.
A beleza é decorrente da harmonia da
verdade e do bem. A verdade é bela, o bem é belo. O que está em consonância com
a verdade e com o bem é belo, o que é dissonante é feio. Desta forma, a beleza,
sendo decorrente de dois valores objetivos, perceptíveis e imutáveis, é,
também, imutável. Portanto, esses padrões de beleza “novos” que os meios de
comunicação tentam nos impingir dia e noite devem ser, quase sempre,
rejeitados. Digo isto especialmente em relação às artes. A arte moderna tenta
relativizar a beleza. A música moderna tenta relativizar a harmonia. Relativizando
em nossas mentes a beleza, é fácil relativizar o bem. Relativizando o bem, é
fácil relativizar a verdade. Tenhamos sempre em mente que os bons atributos que
vem de Deus, como a sabedoria, a paciência, a inteligência, a longanimidade,
são sempre árduos, isto é, não nos dão descanso. “Sine intermissione orate”,
nos adverte São Paulo. Mas, aos maus atributos que vem do nosso inimigo, basta
que nos rendamos. Sigamos a advertência de São Paulo, oremos sem cessar, pois
só assim poderemos cultivar a verdade, o bem e a beleza em nossas almas.
Ora pro nobis sancta Dei Genitrix,
Ut digni efficamur promissionibus
Christe.
H.P.
Cunha
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