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sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Verdade, o Bem e a Beleza


         Esta semana reflitamos sobre a natureza das coisas, em sua magnificência, pois, como nos diz São Lucas, “quibus ipse ait dico vobis quia si hii tacuerint lapides clamabunt”. A natureza nos brada, de fato, a existência de Deus, da Verdade, do Bem e da Beleza. Ainda que os julgamentos pareçam arbitrários, sempre devemos lembrar que é pela razão que Deus nos revela Sua vontade. Portanto, é salutar pensar sobre Deus e Seus atributos: “Sed in lege Domine voluntas ejus et in lege ejus meditabitur die ac nocte”.
         Queremos, com isso, dizer que as pessoas que são guiadas pela fé, isto é, pessoas que não tem instrução são inferiores a nós? Decerto que não. Na verdade, elas estão mais perto que nós, que buscamos tantas racionalizações, do Reino dos Céus: “amen dico vobis quicumque non acceperit Regnum Dei sicut puer non entrabit in illud”. E, não é este mesmo nosso objetivo? Salvar nossas almas, e ajudar a salvar as almas de nossos irmãos?
         Uma vez feita a introdução, passemos para as nossas reflexões. É comum hoje em dia, se dizer que a verdade não existe e que “bem” e “beleza” são conceitos relativos, valores subjetivos. Mas seria isso verdadeiro? Ora, a própria frase “a verdade não existe” é, por si só, uma frase autodestrutiva. Suponhamos, apenas suponhamos, que a pessoa que disse isso tivesse razão. Neste caso, a verdade não existiria, o que, por si só, constituiria o corpo de uma verdade. Logo, haveria uma verdade, a verdade de que não há verdade. Havendo, portanto, verdade, a pessoa que disse não haver verdade estaria errada. Caso haja verdade, a pessoa que disse não haver verdade simplesmente estaria errada. Ponhamos à prova as hipóteses. Digamos que hoje esteja nublado no Rio de Janeiro, mais especificamente, na Penha, e que ontem, na mesma região, tenha chovido cântaros (o que, de fato, ocorreu). Se a verdade existe, e a afirmação acima estiver livre de falseamentos, então ela é verdadeira. Se a verdade não existe, no entanto, pode não ter chovido nesta região especificada na data especificada. Ora, é absurdo você imaginar que nunca mais vai poder dizer que choveu, fez sol, que você está a fazer qualquer coisa, tendo isso de fato ocorrido ou estando em curso, sem que seja considerado inverossímil. Já imaginaram, caros leitores, não poder fazer qualquer afirmação sem que esta seja, necessariamente, falsa, por não haver verdade? Ora, nem todas as afirmações são falsas, logo há verdade. Mas isso tem implicações filosóficas muito maiores do que aparentam à primeira vista. Isto porque nossos costumes e estilo de vida relativizam a verdade. Se a verdade fosse relativa, e demonstramos acima que não é, os conceitos de “bem” e de “beleza” também seriam.
         Há, no entanto, uma relação entre a verdade e o bem. A verdade é boa, a mentira é má. Logo, o que é iluminado pela verdade é o bem, o que não é, é o mau. O mau tem, desde o princípio, ligação com a mentira. Podemos comprovar isso desde o gênesis. Satanás disse a Eva: “nequaqam morte moriemini”, isto é, “positivamente não morrereis”. A própria inveja do anjo mau é inverossímil: mesmo que ele receba a adoração de todos os seres, ele jamais se tornará Deus.
         Sendo a verdade uma medida objetiva, ela existe, e é perceptível e imutável, o bem, sendo decorrente da verdade, também precisa ser objetivo, perceptível e imutável. Ora, sendo assim, o bem nada tem de subjetivo como pretendem os algozes das almas no mundo moderno. Isso significa que, por mais que eu odeie o bem e não me sinta bem com ele, ele não mudará pelo meu julgamento subjetivo. Se eu não me sinto bem orando, eu, por minha livre e espontânea vontade, estou me separando do bem.
         A beleza é decorrente da harmonia da verdade e do bem. A verdade é bela, o bem é belo. O que está em consonância com a verdade e com o bem é belo, o que é dissonante é feio. Desta forma, a beleza, sendo decorrente de dois valores objetivos, perceptíveis e imutáveis, é, também, imutável. Portanto, esses padrões de beleza “novos” que os meios de comunicação tentam nos impingir dia e noite devem ser, quase sempre, rejeitados. Digo isto especialmente em relação às artes. A arte moderna tenta relativizar a beleza. A música moderna tenta relativizar a harmonia. Relativizando em nossas mentes a beleza, é fácil relativizar o bem. Relativizando o bem, é fácil relativizar a verdade. Tenhamos sempre em mente que os bons atributos que vem de Deus, como a sabedoria, a paciência, a inteligência, a longanimidade, são sempre árduos, isto é, não nos dão descanso. “Sine intermissione orate”, nos adverte São Paulo. Mas, aos maus atributos que vem do nosso inimigo, basta que nos rendamos. Sigamos a advertência de São Paulo, oremos sem cessar, pois só assim poderemos cultivar a verdade, o bem e a beleza em nossas almas.
         Ora pro nobis sancta Dei Genitrix,
         Ut digni efficamur promissionibus Christe.


                                                        H.P. Cunha

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